12/11/12


O Emigrante

A alma do emigrado
é uma alma repartida:
Parte prende-se ao passado
e a outra... à nova vida.
Saibam que os emigrantes
emigram por necessidade;
passam horas lacrimantes
horas de grande saudade.
Há quem diga à partida:
nunca mais quero cá vir!
mas a sua alma despida
volta cá para se vestir.
A alma do emigrante
não repousa no cabeçal;
hoje está lá bem distante
amanhã voa à terra natal.
Triste a terra que viu nascer
tantos e tantos emigrantes
para afinal irem morrer
a terras muito distantes.
Tristes aqueles que dão vida
a filhos para embarcarem;
ficam com a sua alma partida
à espera deles voltarem.
Quando cá se volta de visita
compartilha-se muita alegria;
mas chega o dia da partida
e tristeza é a ordem deste dia.
Regressar à terra amada
dá-nos vida sem medida.
Há muita alegria à chegada
e tanta tristeza à despedida.
Quem cá pode fazer vida
nunca pense em emigrar
porque o custo da despedida
é causa para muito chorar.

Carlos R. Borges

* poema gentilmente cedido pela D. Maria Luísa, moradora no Plateau, Cidade da Praia, que refere o poeta como um ilustre desconhecido.