07/11/12


"Dói como respira o caminho"


Dói como respira o caminho
Move lento se não pela bala
pelo sangue da água que as mães
trazem no bico neste Outono vivo na boca
para alimentar quem brinca com as crianças
Acena com o lenço o papagaio do amigo
e deposita nas cartas os cadáveres
das árvores e envia-as para o campo de batalha
Acaba por sonhar com uma abundância
de gatos a ressonar no regaço
e parecem-lhe abutres ao pé da cama
Ou se perde ou se ganha humanamente
os bagos da boca. As sementes da morte
sabe-se lá como é que sobrevivem.

Lisboa, Portugal