29/05/13


É a menina uma concha
que tem no interior um pão vermelho
e quente que quer ser mordido
a começar já pela água da pele
seios, as nádegas, beijos
gotas de transpiração e uma oásis
de sangue fechada na gaiola

 
Escorrega do tacto ainda que arde
a órfã de dedos uma euforia de flor
preste a explodir a doçura pura da fruta
numa oferenda à canção minúscula
o único paladar do outro corpo
cheio de água e mil fios de cabelos
entre fôlegos despedaçados da harpa.

27/05/13

Meu encontro com África. Parte I














Por entre as escadarias de minha sombra, encontro-me com os melaços de uma pele desconhecida. Em metamorfoses sibilantes com as cores quentes de um mundo até então por mim desconhecido. África. Danço nas rotinas de meu sono, nos tambores da noite, nos zumbidos dos bichos. Danço ao som de músicas que nunca me chegaram senão aos vértices e me passaram despercebidas, porque de mim, pensava, nada me dizerem respeito.

A arena empoeirada, os pés furados pelo sol, descalços. Olhares mansos, profundos, catalisados, perfurantes, por vezes medonhos, incógnitos, fizeram-me, em tempos, recuar. Sair de meu trilho.

Hoje arrasto os sons, em silêncio, no rosnido da noite, por entre meus vértices, minhas curvas. Trespassam-me. Vão mais fundo.

26/05/13

Que sabores têm a fruta no olhar?
A finta dos gestos e os enganos do sorriso
E a luz lá fora que te suga o ar da boca
é a cortina que esconde-te o quadrado
da saudade planta na pele, sei lá!

É o retrato e a sua língua e os fios de cabelos
o vazio em círculo a magica da mesma fruta nos olhos
os ângulos estas coisas feitas para te espiar
e hoje quero estar  ao lado do mel do espelho
para ser pacientemente revisto.