25/02/13



Confirma-se o imperceptível silêncio
das águas e o Universo é plagiado
a atear fogo no postiço das civilizações
deixando a morte de ser razoável para o soldado

O despertar do sol no estendal é confuso

A paciência ergue-se das árvores
e o céu precipita-se em quimera doidivanas
A matéria em branco sucumbe
ante a mecânica do sopro que sustenta a música
frouxa da voz costurada na boca nas ervas daninhas.

24/02/13

Depois do prazer


Do grelo ao rabo
O esperma saliente
De quem ali dormiu
Pernoitava tranquilamente

A vagina tão macia
Entre as pernas, amada
Satisfeita, adormecia
À brisa da madrugada

O calafate do seu prazer
Aquele mastro de tesão
Viu-se no sono se perder
Estrebuchado no duro chão

11/02/13


Três Estações da Lisboa Hermética:
                                                                                                                 O Retrato da Cidade; Eu na Caixa e o Outro Inventado





|UM|

Entra o navio mudo pela ranhura da foz do Tejo indefinido e espaçoso na minúscula retina ao se abrir a persiana para a fora do Universo rectangular. E o silêncio madrugador é um arfar cansado e aquoso do cavalo lusitano a jorrar nas escadarias de Alfama. Um comboio enferrujado pelos seus cem anos de corredura desagua a trote no Rossio para se esconder do frio de janeiro na pelugem do gato. Os borrões nos alcatrões são marcas traçadas a giz, onde, estão guardados os botões dos cochichos do Mercado da Ribeira. Todos os recados arcaicos da Moraria trancafiados nos estojos de costura; no umbral da porta, as idosas a envelhecem com os estuques em ruínas nas paredes das casas da Baixa Pombalina. Num exercício de memória a velhota prega com a mola de roupa as fotografias [a preto e branco] na corda do estendal que puxa o Elevador da Bica para a mesa da cozinha. O Navio continua entrando mudo pelo rio, sem explicar este gesto convencional nos exames sociais do mundo; dois milhões de telespectadores arrastam nas pedaladas da máquina de costura este animal de aço para o canto miudinho da sala de visita; perde-se o rebanho na Estação de Metro de Saldanha e os guardadores de gado jogam pedra na sorte pontiaguda de acertarem nas fontes rasas das árvores do Jardim do Príncipe Real. E naturalmente, já se viu que o Tejo é um rio manso e adequado para lavar o rosto do estrangeiro-pastor carregada as cavalitas na porta-bagagem do taxista. O puto reguila esfrega a ponta dos dedos no vidro da montra, tarraxa a chuva dos fins-de-semana num frasco transparente — onde tem alojado os insectos fosforescentes num frenesim de bicho cabeceado a tampa do frasco causando mau tempo dentro do recipiente. Alguns gaiatos do bairro do Campolide destruem grades e engenhocas dos edifícios altos — como os aparelhos do ar condicionado do Hotel Sheraton e das Torres de Sete Rios. Para no final da tarde acharem mais piada arremessar objectos cortantes aos aviões, de modo, a desmancha-las as asas de cartolina coladas com cola branca. Lisboa acorda a ensaiar o voo das andorinhas, o gato aconchegado no sofá espreguiça e corre para espreitar pela greta do cadeado da maleta se a Ponte 25 de Abril conserva aquela frescura de fios de cabelo fechando o rio numa lagoa, pronta para ser subalugada ao inquilino elefante que usa orelhas como barbatanas.[…]

08/02/13

Noite Tardia


rendi-me ao cansaço
fétido os meus dedos escrevem
o odor da minha resistência
não me sinto em paz com as teclas
que estrebucham o azedo do final do dia

não percebo muito do que penso
nesta tarde voraz que me segura
já é noite no dia que se fez tarde
enquanto lá fora o final de semana cresce

quero vida na voz longínqua das noitadas
quero paz no barulho do meu cansaço
como a água de uma ribeira seca
quero banhar-me na imensidão do nada
ao redor de muitos que nunca estão mesmo estando

vou-me acabar rastejando nos meus pulos
andar a pino rebocando o meu sorriso
atando na minha sola o timbre da Lua
sentir transpirar em apoteose o meu ser
de tanto rugir ao vento o doce favo da noite
perdido nas ilhas de sóis escondidos na algibeira
derretendo o meu cansaço nos lençóis da minha cama

06/02/13

TUBAROES AZUIS


T   Tudu nôs nu sta orgulhosus
U  Un bes nu mostra nôs denti
B  Bedju kritu di nôs rapazis
A Afrika treme i lenbra des dés Ilhas
R Rodiadu di agu mar salgadu
O Onti skesedu na mapa, oje labantadu
E Entuandu nôs norma, nôs funana
S Sem medu di perdi, pamodi dja nu ganha dja!

A Afrika recebe-no, nu mostra ma nôs ê bodona
Z Zeru nu ka é, nen na kultura nen na disportu
U Undi nu bai nôs marka te fika markadu
I I mundo ta speranu na Brazil nu ta bai
S Sen medu i ku serteza ma bola ta bai rola!

Em Fortaleza, 06/02/2013

04/02/13

Os tubarões azuis

Somos aqueles que sobreviveram as duas fomes
A alma e retórica do batuque de Nha Nácia Gomes
Somos os órfãos de 20 de janeiro de 1973
Aqueles que outrora Ovidio Martins chamou os de flagelados do vento leste
Os resistentes que as cabras ensinaram a comer pedras
 O povo que inspirou Manuel De Novas a escrever a biografia dum criol
 Que Ildo Lobo imortalizou na sua voz
 O povo da agricultura da seca, à espera da chuva semeando ao sol
O povo que não tem medo de imigrar e começar tudo de novo
Mas sem nunca abandonar o sonho de regresso
Mesmo 4 gerações nascidas longe de casa continuam a falar crioulo
Somos Sodadi de Cabo verde que Armando Zeferino Soares escreveu
Cesária Évora cantou, o mundo emocionou e o crioulo chorou
 Somos a memoria colectiva de fome 47 que kode Di Dona cantou
Somos o grito de liberdade de 5 de julho que Abílio Duarte
 Leu na várzea no LOPI
Somos todos o Antonio Lopi do fundo baixo
Que Ferro gaita cantou
Somos a garra e euforia das 10 ilhas
A maravilha da costa africana
A alma e a vida das líricas de Norberto Tavares
Cabo Verde e diáspora somos os 23 convocados do Lucio Antunes
 Somos todos os 11 que hoje vão entrar em campo no estádio Nelson Mandela Bay em Porth Elisabeth.

Somos os tubarões azuis e seremos sempre tubarões azuis.

                                                                                                         Tubarão Azul Jakilson Pereira

02/02/13

CABO VERDE PARA A FRNTE


CABO VERDE PARA A FRENTE

C             Carrega Cabo Verde para a frente
A             Arrasa e mostra a tua raça
B             Bola para a baliza contrária e marca
O             O teu povo nobre merece esta alegria!

V             Vamos mostrar e vencer no futebol
E              E dizer ao Mundo que tanto na musica como no desporto
R             Riquezas não nos faltam, temos ouro e prata
D             Diamante e petróleo e muito mais e mais
E              Em cada homem e mulher nossos estão as nossas riquezas!

Em Lisboa, 02 de Fevereiro de 2012