MILHO
Luzentes pelo alento dos arranjos
As covas da sementeira marcham
Para celebrar a terra molhada
Que dilata a pequeneza dos grãos.
Inocente não é o canto do lavrador:
Inventa o molhado que não se tem
Luz o rumor do pau na boca do pilão
Esverdinha o sol que lambe a terra
E à sombra do balaio dorme o pão.
O milho é como um pássaro
Que voa dentro de nós a renúncia
Ao seu próprio ninho.
É como um barco que de manhã aporta
E à tarde devolve-se à longa jornada.
Fosse a ilha um barco
E o milho a bússola
Outras rotas,
Outras viagens,
E outros destinos
Teriam as nossas manhãs.