Para Abrão Vicente
Como é triste um pássaro
Se observar na manilha dos corvos.
Antes o voador de penas francas
Esvoaçava cores que na tela eram bálsamos
Da arte que perdura no colorar da imaginação.
Hoje, é triste o voar fingido do pássaro
Na opaca pele da pobre sombra.
Ó pássaro que voas de escarlate
Ventando o remoinho da proeza!
Antes a arte de ventar no branco da tela
Que rolar o vento no leme do revés.
Ontem gentílico era o verde da sementeira
E o escarlate das acácias rubras espiando o sol.
Que ninguém te siga o risco
O piar fugidio.
Jamais um pássaro
Envergadura sua se apresta a dos corvos.
Pena é ver o rubro do sangue da sementeira
No cínico preto e branco iludindo o verde dos sonhos.
Como é triste um pássaro
Se observar na manilha dos corvos.
Praia, 21.06.2012 - KBarboza