30/11/12

Passos Coelho Quer Tcholda

Fotos: Os Suspeitos.
Passos Coelho vai a caminho de Cabo Verde, mais concretamente para a cidade do Mindelo, ilha de São Vicente. Dizem ser qualquer coisa como uma cimeira PT/CV, que já começou a «dar bronca» entre a situação e a oposição. Entretanto, não se sabe bem os contornos de tal re-centrar da parceria económica e empresarial. Num momento em que ambos os países já apresentaram a sua mixórdia truculenta orçamental para 2013, fica-se sem saber se Passos Coelho vai de férias ao país das maravilhas (ups, morabeza) ou vai para dar/sacar mais ideias: duodécimo já canta, cá e lá! Com a diferença que nós os crioulos somos mais criativos, ou seja, o que Passos Coelho ensaia fazer, nós aplicámos na íntegra. Também falta saber o que ele vai lá fazer acompanhado com tantos ministros do seu governo (será que vai também o outro ministro, aliás antigo ministro, para ajudar a «abrir mares»)? Bom, depois do cafuné da Sra. Merkel, parece que Passos Coelho quer tchoda dos crioulos...

29/11/12

DE ARLETE PARA MIM E O MEU PARA A ARLETE

A minha amiga Arlete
Resolveu fazer-me um poema
Hoje escolheu PARABENS como tema
E eu gostei e fiquei muito ciente:

Parabéns João Furtado

P arabens neste dia te venho dar
A migo, irmão, parceiro de letras
R aras as amizades verdadeiras
A rlete Piedade e João Furtado
B ons sócios e amigos fraternos
E s o irmão que me faltou na vida
N ascido em linda terra distante
S incero e puro coração diamante!

J amais pensei encontrar um irmão
O mais diferente possivel de mim
A mbiente e cultura da lusofonia
O amigo leal que me dá alegria

F uturo nosso, sempre juntos
U nidos em torno da literatura
R adiante com a nossa parceria
T raduzida em obras de magia
A migo, que tenhas neste dia
D oses imensas de muita alegria
O s amigos e familia a teu lado!

Arlete Piedade



E eu, pobre de mim
Respondi aquele belo poema
Com este pequeno poema
Em acróstico também é assim...



ARLETE PIEDADE

A  A alegria vem em pequenos gestos…
R  Radiante fiquei com o teu acróstico
Lindo e bem formatado, amiga
E  E muito agradeço, sinceramente
T  Tanta gentileza da tua parte
E  Escreveste com coração e li com emoção!

P  Palavras me faltam para dizer
I   Imagina só, uma única palavra
E  Eu… Senti os meus olhos molhados
D  Dizer apenas obrigado com que palavra?
A  Amiga, tu és uma irmã, tu sabes
D  Divertimos e escrevemos juntos
E  E do esforço… Resultou esta Amizade, obrigado!



Praia, 29 de Novembro de 2012

João Furtado

http://Joaopcfurtado.blogspot.com

27/11/12

Pa ka skesi Eneida Nelly

Entri Tejo y Fontom

Buké di solidon botadu pa altura
Sem txom pa kai sem bentu pa leba,
Ta flutua entri rodadas d'um relogiu!
Dos pontus ekidistantis k marka um kruz sò.

Um rio, um làgua, um mar, um mágua...
Que diferença faz?
Se riu tem agu, mar tem onda,
Riu ta kori miúdu e mar ka tem tamanhu?!

Si n'ta djobeba fontom, n'ta kudaba Tejo k dia n'ta txiga,
Gosi riba Tejo alem ta fla, fontom é ti k tempu...
Rola na rea di odju fitxadu, ka tem ponta...
Boa atoa sem pensa na nada, sabendu so ma ntem k nada
Undi k mi é turista y gia de nha sonhu na nha mundu!

Nlarga tudu, ndexa tudu, ku xintidu na bem buska tudu!

Mas nhaguenti ntroka nha nada xeiu ku um tudu basiu, sem nada!

Si ndistroka é dirota, si mpara é kobardisa, pa diante nka konxi kaminhu...

Riba di dos brasu d'agu sem azul, djam manda fla até um dia nha mar azul!


Eneida Nelly, sukutam (2011)

25/11/12

((()))


E de seguida erguia o dia, 
Frias folhas de laranjeiras,
Começos em manhãs de pratas

A terra e a enxada,
A merada e a tarimba,
O tempo e a merenda,
O vento e a tardinha

De signo, camponês,
De sonhos, Holandês

O campo e o gado,
O canto e o conto,
A lanterna e o compasso,
A vereda e o abrolho

E menos dos oito, eram anos
Do tambor, da idade e dos segredos.

24/11/12

Their Eyes Were Watching God

«There is no book more important
to me than this one.»
Alice Walker.

Obra-prima de Zora Neale Hurston (1891-1960) e uma das mais importantes obras da literatura americana do século XX, publicada pela primeira vez em 1937, Their Eyes Were Watching God conta uma história de uma mulher negra que embarca numa longa viaja de autodescoberta. Janie Crawford, aos dezasseis anos, é uma jovem desempoeirada obrigada pela sua avó moribunda a casar com Logan Killicks, um homem mais velho e grosseiro, que ela despreza e descarta na primeira oportunidade. Janie decide fugir com Joe Starks, um homem citadino cheio de sonhos e projectos ambiciosos. Juntos seguem para Eatonville. Ali, mal chegam, Joe conquista um lugar no coração do primeiro condado negro em construção, tornando-se o seu primeiro presidente da Câmara Municipal, chefe dos correios, lojista e proprietário de terras. A ambição pelo poder torna frágil a relação deste casal. Com a morte de Joe, Janie liberta-se das convenções matrimoniais. Ignorando as más-línguas de então, ela apaixona e entrega-se de corpo e alma ao amor de um jovem trabalhador de espírito livre muito mais novo do que ela. Tea Cake e Janie protagonizam esta emocionante história de amor e de liberdade no Sul dos EUA, então marcado pelas leis segregacionista e em plena luta pela afirmação das comunidades dominadas e marginalizadas. Através do amor, Janie reencontra a paz interior que tanto procurava. A narrativa dessa história muda da terceira pessoa para uma mistura de primeira e terceira pessoa, desenvolvendo uma trama a partir da experiência das mulheres afro-americanas, jovens e que prezam a sua individualidade contra os apelos moralistas de uma comunidade dominada onde as mulheres são evidentemente as que mais sofrem de todas as discriminações racistas e sexistas. Mas, longe de qualquer vitimização, a história ganha pelo realismo e pelo conhecimento profundo da vivência numa pequena comunidade, longe do asfalto e das luzes das grandes cidades americanas. Tão bela é a história contada que a apresentadora Oprah Winfrey considera que esta é a sua «história de amor favorita de todos os tempos», tendo, por isso, optado por produzir um filme baseado neste romance e escolhendo como actriz principal a bela Halle Berry.


A vida de uma escritora negra nos EUA

Zora, romancista e antropóloga, nasceu a 7 de Janeiro de 1891, em Alabama, tendo vivido em Eatonville, Florida, desde a sua infância. Foi aluna de Franz Boas. Teve uma carreira de altos e baixos, durante mais de trinta anos. Foi contemporânea de grandes escritores afro-americanos entre o período do Harlem Renaissance e o fim da guerra da Correia. Toni Morrison considera que «Zora Neale Hurston é uma das maiores escritoras do nosso tempo.» Contudo, esta escritora foi silenciada depois do início dos anos cinquenta e recuperada só no final dos anos setenta. E tornou-se uma referência da literatura americana e uma pérola da comunidade negra.

Durante a vida dela, ela foi aclamada, teve glamour e uma vida louca, com amores e desamores. Porém, em 1945, vendo para o caso de muitos dos seus colegas negros e pressentindo que também ela iria morrer na miséria, decidiu persuadir W.E.B. Du Bois a comprar um terreno baldio na Florida para criar um cemitério de afro-americanos ilustres, a fim de não serem enterrados numa vala comum. Dizia ela, «temos de assumir essa responsabilidade, para que as suas sepulturas sejam conhecidas e honradas.» À primeira, W.E.B. Du Bois torceu o nariz, mas depois caiu na real e acabou aceitando. Pouco tempo depois, ela morreu e na miséria total, a 28 de Janeiro de1960, aos 69 anos. Teve um funeral miserável, que só não foi pior porque os seus vizinhos organizaram um peditório para custear as despesas mínimas, sem direito a uma pedra tumular. Foi enterrada numa sepultura cuja identificação aconteceu em 1973. Na altura, meados dos anos setenta, a então jovem escritora afro-americana Alice Walker (a autora de The Color Purple) fez uma longa viagem para colocar uma pedra tumular na sepultura de Zora, no cemitério segregacionista Garden of the Heavenly Rest, em Fort Pierce, Florida. Alice Walker encontrou o cemitério abandonado e cercado de cobras e ervas daninhas que lhe chegavam à cintura, numa rua sem saída. Depois, com os parcos recursos que ela tinha, conseguiu comprar uma pedra tumular (não aquela que ela pretendia), mas uma lápide cinzenta e simples, ornamentando com um epitáfio: «Zora Neale Hurston, Um Genio do Sul.» Depois desse gesto de Alice Walker e dela mesmo ter se inspirado no trabalho da escritora morta, Zora Neale Husrton tornou-se uma referência incontornável da literatura americana e feminista. 

Orçamento de Estado 2013

A política de Austeritarismo e da dividadura, como a única hipotética saída da crise levado a cabo em alguns países da Zona Euro, tem destruído os alicerces do Estado Social e propiciado um ambiente de claustrofobia socioeconómico, pondo em causa o valor da Dignidade humana.

Obviamente que políticas orçamentais insustentáveis do ponto de vista da disciplina orçamental requerem corrigir os desequilíbrios orçamentais e macroeconómicos acumulados pelos partidos do arco governativo e abrir caminho para o crescimento sustentado, porém tais correções devem de garantir uma distribuição equitativa no esforço de ajustamento e proteger as famílias de mais baixos rendimentos.

O orçamento de Estado de Cabo Verde para o ano de 2013 deve comportar verbas, que privilegiem a promoção do crescimento económico, fundamental na igualdade de oportunidades. Um orçamento prudente e ambicioso, que leva em conta os nossos compromissos internacionais inerentes a sustentabilidade das contas públicas, como também deve ser acompanhado de medidas que visam o incentivo ao empreendedorismo empresarial, a recapitalização das empresas cujo rácio da solvabilidade é vulnerável, com forte impacto na criação de emprego e na revitalização da nossa economia.

É de salientar ainda, que o instrumento de gestão das despesas e receitas do Estado, deve continuar a promoção do desenvolvimento socioeconómico sustentável, com principal enfoque para áreas de desenvolvimento rural, do combate a pobreza e às assimetrias sociais, da modernização e duma maior transparência da nossa administração pública, do investimento público, factores vitais para propulsionar a capacidade produtiva da nossa economia.

22/11/12


"Do bairro corcunda toscas marcas corpulentas"

Do bairro corcunda toscas marcas corpulentas
das águas – astros embebidos numa colher de chá
e da dura luminosidade da rua
passa a memória e passa tangente à planície
dos corpos maiúsculos Enquanto isto, o oceano
esmigalha no campo de futebol o diário frio do dinossauro
abatido à queima-roupa no espelho

Farejo a criança que cresce na crina dos galos
e os animais domésticos A infância areia no verdugo da porta
onde plantamos as fotografias e a inocência do miúdo
corroía no Monte Preto com os dedos de porcelana
ancorados no luar silencioso dos contos noturnos.   


Lisboa, Portugal

20/11/12

Palestina

Uma mulher palestiniana é resgatada dos destroços do prédio onde vivia, depois de  um bombardeamento israelita. Entre o radicalismo do Hamas e a vitimização de Israel estão as populações civis que apenas desejam viver em paz. Também poderia colocar aqui uma fotografia da destruição do lado israelita, mas a desproporção de forças e o número de vítimas do lado palestiniano torna o sofrimento destes muito mais punjente. Foto: Majed Hamdan da Associated Press.

19/11/12

QUANDO O RELÓGIO PARAVA

QUANDO O RELÓGIO PARAVA

S  Sinto-me nostálgico e a recordação
A  Aparece para tomar conta do meu coração
N  Não sei porque, mas tudo é forte razão
T  Tanto para viajar no passado imaginado…
O  O relógio da torre… Devia ser uma igreja…

A  A hora era pontualmente anunciada e animava a cidade
N No meio… Apenas um toque, um sonoro e belo
T Toque… Era tal… E meia… Era o ritmo pachorrento da cidade…
O O silêncio, naquele dia o relógio não tocou
N Ninguém esperava tal acontecimento
I Infinitamente acostumados desde sempre
O O relógio do pulso dos afortunados era mera decoração…
 
D Duvido que alguém soubesse o que aconteceu
O O relógio talvez precisasse apenas da corda…

P Parada, a cidade de Santo António do Príncipe 
R Restava silenciosa e triste e eu, parado e fixo
I Insistia a ver os ponteiros, o menor no 2 e o maior no 4
N Não entendia que era a prova do crime
C Certamente ele estagnou as duas e vinte
I Indicadas pelos imóveis ponteiros…
P Por algumas horas a cidade parecia morta
E Enfim… Por fim… O Frank, o maluco e deu a vida ao relógio… 


João Furtado
Praia, 19 de Novembro de 2012
http://joaopcfurtado.blogspot.com
                               (Ainda nós dois….)

Incrível como em nós,
Corre coisa assim,
Costurando em minha pele,
O desabafo fino do teu olhar;
E mais-
Cozendo na ilusão do vento
O reinventar do nosso encontro,
E dedilhando na esquina de lua clara,
O sopro magnífico das duas “algas”
               Rolando no meigo areal feito dessas duas vidas
                                       Destino “brabu” e ess nosso mar “d´sodad”…

Versos para a minha amada

do alto da colina
por entre montes e vales
debaixo deste sol abrasador
no lume da terra vermelha
caminho
passo a passo

deu-me para dizer versos
eu que poeta não sou
apenas sei tocar tua face, minha amada
até teus lábios sorriem
no leito do vale
desta aldeia que não é minha nem tua
por mim, o dia não acabava nunca.

Do outro lado do cais

perfume de moço bonito
nos seus vinte anos
coração livre
sorriso puro corpo perfeito
um anjo caído
do outro lado do cais

coração em ardência
minha mão no ar
um aceno audaz
nesta tardinha ternurenta

teus beijos chegando
meu amor juvenil
contigo, eu vou
até ao fim do mundo.

O Silêncio dos Porta-Retratos

rude.
esse calcorrear
por entre pedras, bostas e pastos.
folhas secas caídas
rastos de velhas malditas
céu pesado
um azedume no ar.
corjas doentias
delírios distantes
gestos suspensos.
vagas palavras
asas de chumbo
cor do negrume
das lembranças de outrora.
brisas brandas
janelas embaçadas
canções no divã
dias em vão
sonhos encalhados
nesse cais sem partidas.

18/11/12

Três Estações da Lisboa Hermética:
O Retrato da Cidade; Eu na Caixa e o Outro Inventado

|UM|

[...] Lisboa acorda a ensaiar o voo das andorinhas, o gato aconchegado no sofá espreguiça e corre para espreitar pela greta do cadeado da maleta se a Ponte 25 de Abril conserva aquela frescura de fios de cabelo fechando o rio numa lagoa, pronta para ser subalugada ao inquilino elefante que usa orelhas como barbatanas. É este o elefante que limpa os pires e as esterinas anglo-saxónica nos restaurantes do Chiado; amigo inseparável que Fernando Pessoa tira do bolso do paletó todas as terças-feiras de Abril para o emprestar aos fadistas, que no alto do ramo ditam as confidências da Rua do Carmo: a sombra desnuda dos namorados a lambuzar casca de fruta na pele. A sentinela no cimo do Elevador da Justa é a desenhadora de cartazes de dançarinos folclóricos em exibição na antecâmara do Teatro da Trindade. Aplausos de sapos no fundo da garrafa; as estátuas que tiram o pé do chão para afiar os atacadores dos sapatos batendo com a cabeça na relva são heróis insossos nas guerras em que Portugal era cesto de pão reflectido armistício no espelho. A menina Maria Helena já pode abrir a pálpebra e aceitar a luz líquida das Águas Livres; alcançar a varanda pedir o pão-nosso de cada dia pela injecção da morfina na seringa; penhorar a escada e subir ao quinquagésimo primeiro andar e resgatar os anões da Branca de Neve da gaiola, enquanto o radiologista do tráfico rodoviário dita os erros ortográficos da cartografia da cidade aos varredores da rua. Falta um degrau abaixo do nível do Mar de Carcavelos para que o diafragma capte a baleia submergindo com ajuda duma colher de chá no aquário. Bom dia, senhor Herculano! É notícia nos semanários que os gatos-pingados retiraram-se das rampas dos parques de automóveis e dos telhados à beira do rio — territórios onde os tigres acasalam ovos de perdizes com os marinheiros do Cais de Sodré. Na surdina, nos canteiros da Praça da Alegria, os Erasmus enrolam com os grilos nas unhas da Graça-nocturna. E por cima do ombro do Bairro Alto — originalmente feito a lápis de carvão — a sair da janela, o sono é impensável sem que o sal da electricidade sintonize: o sofá espatifado, o gato preto, o sonho e o poeta. Este sonho ridículo, o gato enganado no sofá e o poeta a beber o fumo de cigarro no escritório da advogacia; são naturalmente a Cidade de Lisboa no Outono de 1910 a inclinar-se [o navio] até a borda para chegar à água. Da rua Augusta à Praça de Comércio, os amantes limpam a correias das bicicletas, laçam cores quentes do arco-íris na gola da camisa e duas doses de doces caseiros nos lábios  [...]

17/11/12

Stória di Mortu

1
Un bes, lá na HAN, Psikatria ku Kasinha ta fikaba pegadu. Nton un gaju ki staba nternadu na Psikatria salta paredi di Kasinha, entra y deta riba kes kama di beton ki ta podu mortu un bes. Banda tres hora madrugada, ki kau staba tudu yan, un serbenti leba maka ku un mortu pa Kasinha. Lá undi ké entra pé pasa mortu pa kama di beton, kel gaju di Psikatria ki staba detadu labanta pergunta-l:
- Gosi éh ómi ó mudjer?
Nton serbenti fuliâ mortu, sai kori ta djata... ma djé fronta... ma mortu djá papiâ.

2
Un bes, lá Txada, tinha un ómi malaaandru, más malandu ómi di mundu. Éh ka ta labantaba pa fazi nada, nem pa kumé. Nton, família kansa kual. Po-l na maka pa ba ntera-l. Às tantas, ess kontra ku un migranti ki ben di Merka, ki pergunta kuzé ki sta pasa kés sa ta bai ntera ómi. Ess fla-l pamodi ómi ka gosta trabadja. Nton migranti ki ben di Merka fla pés spera mé ta da-l dinheru nton. Dipós, kel ómi ki sa ta lebada, stika rostu fla:
- Dinheru? Inda pa-m ba kunpra kumida, pa-m ba kuzinha y inda pa-m ben kumé? Naah, nton sigui nteru!!!

3
Kel bes, na tenpu fomi 47, lá na Sistencia (actual Telecom), guentis só na spera kel gran di midju ta kai ta mori mortu. Nton, tinha un dotor ki ta konfirmaba morti y kabokeru ta ntera. Nun okasion, dotor ka tinha tenpu di djobeba txeu, éh dá un gaju pa mortu. Na hora ntera, gaju mexi korpu fla baixinhu:
- Mi inda N ka mori.
Kabokeru vira pa el fla-l:
- Nhu kala boka! Si dotor fla ma dja nhu mori, dja sta dja. Djo mori inda bu ta papia. Bu sta na troça óké?!


(specialmenti pa Kaká)

Rapízius

          Rapíziu nº 01/12  
Ka sabedu ma bó é mi e mi é bó sen tra nen poi. Otus podi pensa ma nu sta longi kunpanheru, ma distansia ki parse ta separanu, ka ten. Separason na nós ka ten, ka ta iziste.
Alebu li má la tanbé. Kel ki passa é kuzas ki passa. É sirkunstânsia di vida,  pur isso ten paxenxa...kel ki sta, dja sta djâ. Fadiga pakê! Ka sta faxi sta bibu si min morre dja ten más di dez anu anu, aliás, nka debe naseba, pakê! Pa morre dipôs e fika bibu ta da pa li, ta da pa la! É duru pa mi sabe izatamente modi ki bu sta passa e sta ser tratadu na kel terra lâ, en ki  bu sta kondenadu a fika ti nka sabe kantu tenpu más.
Di tudu modi, min sta bibu na morti kin morre. Má senpre li, firmi na nha konviksãu di kunpri nha dever di mortu pa ku bibu. N ta xiti txeu falta di sta mortu e nta gostaba di ka staba bibu pan odja kel ki nka debe odja e xinti kel ki nka debe xinti. N ta passa vida tormentadu. Na meiu di kuzas ki ta pon ta respira fundu ku gana fitxa coragi pan dâ un pan, má nta pára-a-a-a-a pa pensa. Manbá sin dâ bá ku amigus ku tudu, pur issu nta branda nervu, tomandu fresku na rol di mar na horas di sussegu total.
Ka bu txoman mazokista ou sádiku, mas nka ta rizisti tentasãu de kontau o ki passa ku mi à dias. N duense grávi nbá dotor, di la nba hospital pa internamentu. Kantu ntxiga, n da nomi, n paga porta, tudu, es djobe na konputador nha nomi ka staba lâ. Npidi pa djobe dretu. Djobedu, djobedu, atxadu. Fladu man morre dja tinha dizoitu anu passadu. Djobedu, atxadu bilheti di óbito ki ta da man morreba di asidenti di karru, pur akazu n tinha ku mi tudu dokumentu, BI, karta konduson, Sósio di Benfika, NIFI, karton 24 di três banku, karton di vizita, inkuindu bilheti di óbitu. Nton nka fika internadu na kuartu di duentis. Na kazinha di mortu undi mortu ta podu pa pode bibu dipos di morre.
Ê… si! Nfika la ta spera ora di morre más un bes.
Kaka Barboza
Praia, 17.11.12
Nota: Eury keli é bu prizenti di anu, lenbra nos konbersu.

16/11/12

Floris di Ibyago








DOR DI DUEDU
Mi nka ben mundu pan pol di nha getu
Má pa n sta na getu di kel ki é dretu
Sem dor di duedu e sen duedu di dor
N ka ben pa ser dor di lansa kupidu.
Bo era sol di nha sonho
Xintadu na ramu nha paxenxa
Ta buska gulória na segredu dun krensa
Dun krensa kredu na dor di forti duedu.
Si sol ka ta manxeba na kutelu
Ami era pinton mangradu ku dia kontadu
Mi era kruz na Kruz di Piku krusifikadu
Mi era azágua di lugar kondenadu.
 Ayan!
Otu, má alen li!
Demu! Si duedu ta due
Kre ki ka kredu
É mas ki duedu na dor di forti duedu
Ka ta da pa pensa ka ta da pa ntendedu.

Kaka Barboza
Praia, 16.11.1012  

PRÍNCIPE, MINHA ILHA, MINHA INFÂNCIA


PRÍNCIPE, MINHA ILHA, MINHA INFÂNCIA

P  Procuro palavras, mas falta letra as formar
R  Recorro a longínqua e perdida memoria
I  Infância minha...Outros tempos… lindos tempos
N  Nada de importância diria… Mas saudosa
C  Cidade pequena, população amena
I  Isabel, senhor Pedro Sapateiro, Nha Fidja…Com os pasteis…
P Padaria da Nova Cuba, onde quase nu
E E descalço ia vezes sem conta comprar pão…

M  Marginal molhada da água salgada transbordando do mar
I   Imensa recordação do ambienta quase familiar
N  -Não é o filho do João Branco…, Todos conheciam todos
H   Hoje longe estou… Será que tudo continua na mesma?
A   A pequena cidade entre dois riachos… S. António do Príncipe!

I    Ir e voltar das aulas na escola improvisada da antiga igreja
L   Longe da era do computador ou televisão ou consolas
H  Horas e horas pachorrentamente a brincar na praça principal
A  A corrida e o esconde, esconde… A cabra cega… Esperando a hora do recolher…

João Furtado
Praia, 16 de Novembro de 2012
http://joaopcfurtado.blogspot.com  

15/11/12

Cabo Verde e a crise Europeia

Cabo Verde é conjunturalmente dependente da evolução do cenário macroeconómico internacional e estruturalmente condicionadas pela adopção de políticas económicas e fiscais consentâneas à exigência da sustentabilidade das contas públicas.

Face a instabilidade económica e financeira na Zona Euro e a incerteza quanto ao seu desfecho- relativamente a possível saída da Grécia do Euro e as subsequentes consequências para toda a Zona Euro e o espectro macroeconómico mundial, requer esforços de saneamento das finanças públicas, com redução das despesas correntes-como sendo as despesas com o pessoal, Municípios e Institutos Públicos- que per si materialmente, constituem o acréscimo das contas públicas- e a intensificação de reformas estruturais, com vista a aumentar a competitividade da nossa economia na sua dinâmica inovativa e desenvolvimental .

O nosso País é subsídio-dependente dos fluxos económicos, condicionado pela evolução da economia internacional, em particular da Zona Euro, o qual detém uma parte significativa das trocas comercias. Ora, Cabo Verde tem a sua moeda ancorada ao euro, em virtude do Acordo de Cooperação Cambial, datada do ano de 1998,daí que seja compreensível alguma apreensão em torno da crise económica Europeia.

Face ao exposto é exigível uma gestão macroeconómica prudencial, pelo que requererá uma estratégia de consolidação orçamental a médio e longo prazo, isto é, que os gastos públicos, designadamente as despesas de funcionamento e com a política social do Estado, devem ser ajustáveis à capacidade de geração de recursos da economia e evitando qualquer desorçamentação das despesas do Estado.

A disciplina das finanças públicas é inegavelmente importante mas não é, porém, suficiente para impulsionar e potenciar o crescimento económico e do emprego, condição exigível para a melhoria de vida dos cidadãos Caboverdeanos. Sendo assim, é de suma importância  que se adopte políticas públicas de incentivos fiscais e a constituição de fundos estruturais, destinadas às pequenas e Médias empresas, com vista a apoiar o relançamento da actividade económica , bem como a flexibilização da legislação laboral, conditio sine qua non, para a competitividade e capacidade de ajustamento da nossa economia, face à exigibilidade macroeconómica nos dias actuais.

Floris di Ibyago



Izisti ta: Seiva
Invisível na ventri fantasma di tenpu

Izisti ta: Raízis
Possível na siu dizaforadu nha viola

Izisti ta: Fodjas
Indisifrável na zibiu galanti di ventu

Izisti ta: Simentis
Inimaginável na txiu-txiu di txintxiróti 

Izisti ta: Floris    
Adimirável na loukura di odju d’águ

Izisti ta: Txon
Provável napundi Ibyago ta djôngo tenpu.

Praia, 06.6.2006 KBarboza  

Comédia Caboverdiana

Uma vez, entrei numa agência de viagem, daquelas que há no Plateau. Disseram-me quanto custava uma viagem à ilha Brava.
- Kuandu ki-m podi bai?
- Bu ten ki kunpra pasaji gosi, barku ta bai manhan.
- Undi N podi fika? Ka ten ninhun kau baratu?
- Naah, keli gó bô ki ten ki djobi.
- Kuandu ki-m podi volta pa Praia?
- Eh, dona, keli gó N ka sabi. Tantu podi ser na próxima semana ó otu mês.

...Ta dipendi di barku...

14/11/12

"O apego do silêncio pela criança no baloiço"

O apego do silêncio pela criança no baloiço
faz dormir os pássaros e o fio de cabelo
No sarcófago habita uma multidão em cacos de vidro
a espreitar para a ausência do Deus

Longos caminhos e jardins postos à deriva no dorso do cavalo
e o navio na erupção fria do vulcão cheira a odor de pão cozido
na narina da ave à espera que o barco fermente
a viagem dos seus demónios na asa.

Lisboa, Portugal

13/11/12

Floris di Ibyago

                    MILHO

                        1
Luzentes pelo alento dos arranjos 
As covas da sementeira marcham
Para celebrar a terra molhada  
Que dilata a pequeneza dos grãos. 

Inocente não é o canto do lavrador:  
Inventa o molhado que não se tem
Luz o rumor do pau na boca do pilão
Esverdinha o sol que lambe a terra
E à sombra do balaio dorme o pão. 

                        2 
O milho é como um pássaro
Que voa dentro de nós a renúncia
Ao seu próprio ninho.
É como um barco que de manhã aporta
E à tarde devolve-se à longa jornada.

Fosse a ilha um barco
E o milho a bússola  
Outras rotas,
Outras viagens,
E outros destinos
Teriam as nossas manhãs.

                             (Dois poemas da coletânea por publicar - Terra Dilecta - de Kaka Barboza)

12/11/12

Empreendedorismo Social vs Apartheid Social

Cabo Verde tem um elevado défice de solidariedade efectiva de uma agenda social de combate à pobreza e à exclusão social, com os seus efeitos adversos na economia solidária, nomeadamente no que concerne ao Empreendedorismo Social.
O empreendedorismo social tem na sua génese conceptual, a identificação dos problemas sociais e adoptar princípios de empreendedorismo com vista, a organizar, criar e gerir empreendimentos que promovem a transformação social, maximizando desta forma o capital social, necessária ao desenvolvimento sustentável, dos programas, iniciativas e acções políticas e sociais de uma Nação, Sociedade, Cidade ou Comunidade.

Os sectores mais vulneráveis da nossa sociedade-Os encarcerados no Albergue da Desesperança- clamam por uma vida condigna e pelo direito de ser um cofactor contributivo para uma sociedade mais próspera tanto na sua dimensão, económica, social, cultural e solidária.

Pessoalmente, o meu coração lacrimeja, ao ver as profundas disparidades e desigualdades no acesso á justiça, educação e aos bens de primeira necessidade entre o meu povo.A minha alma sussurra os gemidos inexprimíveis no tribunal da solidariedade compreensiva, porém são inaudíveis aos juízes do mesmo.

Ainda assim acredito no “Sonho Caboverdeano”, o sonho de peleja contra o “Apartheid social” que se consubstancia no fosso de desigualdade entre os que banqueteiam nos Palácios do prazer material e os que mendigam ignominiosamente nas mesas daqueles.

Creio na materialização efectiva do sonho, de um País, aonde os mais pobres e excluídos socialmente, não são vistos como “Zé Ninguém” ou “descartáveis” da Sociedade, mas sim como partes integrantes de um capital social propiciador de um Cabo Verde mais Justo e Solidário.

Sra. Merkel

Num momento em que toda a gente sabe que a Europa está fedendo nas mãos da Sra. Merkel e companhia, eis que vem à baila aquela futilidade do costume. Claro que, pela Europa fora, muita gente quer esganar a Sra. Merkel, mas, certamente, não porque ela deseja jantar e falar de futebol com o selecionador espanhol, Vicente del Bosque. Oh, que maravilha, ela gosta é de futebol! Então, não sabiam que ela é uma mulher comum que gosta de cozinhar sopa de batata ao som de música clássica. Ah, também gosta de jardinagem. Meu deus, ela é a dama mais poderosa da Europa e do Mundo, então vamos lá futricar sobre a cor da camiseta dela. Que babado, a actual chanceler alemã conservou o apelido Merkel do seu primeiro marido, mesmo depois de ter voltado a se casar. Por que razão ela não usa aliança? Mas, se calhar, tal como a Sra. Thatcher fazia ao seu Denis, a nova dama tem um tempo na agenda para servir religiosamente o tal pequeno-almoço com omeletes ao seu Joachim! E o dia ficou lindo… ainda que seja sem o saco de pão que deveria estar pendurado à porta de casa.

Floris di Ibyago

ALENO!

                            Pa Mimória di O. Pantera

Manenti…
Aláno!
Porfiado ta bira-l strela
Fincado ta bira-l tela
Gota-gota ta bira-l legrête
Sima teimosia bedjera

Manenti…
Aláno!
Sol-a-sol ta po-l sende
Tenpu ardedu pa ganha tenpu
Dia agendadu ta po-l rende
Sima teimosia bedjera

Manenti…
Aláno!
Brio di panu terra na tornu
Ta mata tontura di speransa
Ta santâgia Santiago
Si kâ fila!
Kulpadu ka santu…
Ka mi!…
ka bó! ...
É silensiu koba nos boka.

Kaka Barboza
2007-03-02

O Emigrante

A alma do emigrado
é uma alma repartida:
Parte prende-se ao passado
e a outra... à nova vida.
Saibam que os emigrantes
emigram por necessidade;
passam horas lacrimantes
horas de grande saudade.
Há quem diga à partida:
nunca mais quero cá vir!
mas a sua alma despida
volta cá para se vestir.
A alma do emigrante
não repousa no cabeçal;
hoje está lá bem distante
amanhã voa à terra natal.
Triste a terra que viu nascer
tantos e tantos emigrantes
para afinal irem morrer
a terras muito distantes.
Tristes aqueles que dão vida
a filhos para embarcarem;
ficam com a sua alma partida
à espera deles voltarem.
Quando cá se volta de visita
compartilha-se muita alegria;
mas chega o dia da partida
e tristeza é a ordem deste dia.
Regressar à terra amada
dá-nos vida sem medida.
Há muita alegria à chegada
e tanta tristeza à despedida.
Quem cá pode fazer vida
nunca pense em emigrar
porque o custo da despedida
é causa para muito chorar.

Carlos R. Borges

* poema gentilmente cedido pela D. Maria Luísa, moradora no Plateau, Cidade da Praia, que refere o poeta como um ilustre desconhecido.