27/12/12

Nascido a 5 de Julho – para uma nova largada


I.
- Terra pobre, maltratada pela seca, varrida pelo vento e resgatada pelo sonho. - É com esta frase melancólica que o poeta Fragoso descreve o novo solistício para uma nova era. A independência de Cabo Verde sopra com emoções o povo das ilhas. Ventos de sorrisos embalam os corpos dos crioulos das ilhas num salutar momento de festa. Também exige momentos de reflexões para um desafio maior; como suster e sustentar todos os ingredientes de uma natureza ingrata, tecida pelo fogo do sol e fermentada no barro da resistência. Como dar a dignidade ao povo das ilhas no momento de incógnita. A chuva, quando vem, malha a alma crioula, alimenta os sorrisos dos camponeses das ilhas. Quando falhava, era a mortandade, êxodos e processões e outros rituais que faziam fé na bondade divina. A palavra de ordem era construir, fintar o destino e fintar o tempo. Os socalcos, diques, servem de travesseiros às várias travessas, vales e cutelos das ilhas. Tratando-se de construções do desespero, de desconfiança para com o futuro.

- Fragoso, fragoso, acorda homem. Hoje é o Dia da Independência. Vamos à várzea, lá está reunida o povo. – É com essas frases de entusiasmo que Juvêncio acorda o Fragoso. Com brilhos nos olhos, a cara exclama com alegria e contentamento. A boca goteja, cuspinho de nervosismo, com palavras cortadas e gestos sinfónicos. Satisfação sim no momento impar na história de um povo.

- Calma homem. Não estou a dormir meu amigo. Estou pensando no futuro dessas ilhas. No passado ao presente tem sido duro… mas o futuro, não sei. Juro que não sei. – Com emoção e estilo ponderado que Fragoso sustenta as suas inquietações. De face, comida pelo tempo, cogita pacientemente as caminhadas nem sempre de glórias. Momentos há que a fome não perdoara famílias, haveres e afazeres. A migração para São Tomé tornara no calvário para muitas famílias. O mar de Kepona não deixara muitas saudades. Enfim os traços da história são tantos que inquietam qualquer alma. Fragoso é um homem seguro de si. Aprendeu a ler e a escrever com os militantes, pró independentista, na clandestinidade. Entrara na fileira de recrutamento de activistas políticos como forma de contribuir para a independência das ilhas. Fora preso político no Tarrafal de Santiago, antigo Campo de Trabalho Forçado. O Fragoso lembra como se fosse hoje, as atrocidades impostas pela disciplina fascista. 

24/12/12


Elogio À distância e Às memórias
[Dois. Do Algarismo Romano]
  
Correção da largada: um ponto no i grande e outro no travessão da barra que apoia a armação da chuva. Um grito de partida transformado num animal atormentado escorre, indo de encontrão contra o isolamento da ilha Santiago, respirado pela humanidade, que explode ao entrar em contacto com o pulo do cordeiro [de Deus que tira o pecado do Mundo] da ponte velha para o vidro da água da praia da Gamboa. Quando definitivamente decidimos acelerar o relógio de corda: o fragmento da ilha tinha o globo terrestre prestes a rebentar na pupila e a fome muito rente ao chão da viagem. Gingava com o chão seco da sementeira — a pedir morfina nos ossos — dói-lhe a poeira que o rebanho pasta no som da rebentação das ondas e na mão vazia de barcos. Só de pensar no trajeto que é dobrar os mares numa colher que é levada a boca, inclina de cabeça invertendo para a fundura da queda [Há quem caia inteiro no buraco dos botões da camisa]. No lugar do mundo, o fragmento vulcânico de ilha põe ovos de pátria, na tentação de semear o local de nascença. Passa a escavar toda a terra redonda com as unhas de garfo; enquanto os navios a vapor apertavam-se nas artérias do pássaro que transporta consigo num frasco de vidro. De cada vez que se aproxima do nada — enchendo a cabeça da formiga, com terra fértil do deserto da furtaria — desata a dar nó cego no atacador do sapato. A infinita circunstância de ter sempre o Sol a espia-lo para dentro do crânio, afugentando os seus demónios ao bramir dos gados — rituais domésticos orquestrados, gestos repentinos de camponeses dando linha à pesca dos arbustos e de um pouco de lume de panela na bombagem do combustível do motor avariado.

23/12/12

P.Q.P

P.Q.P?!

Puta Que Pariu?!

P.Q.P
Palavra Que Perdoa
Perdoa essa boca suja
Que desconhece o valor da mãe
E em três palavras
Revela a desonra do ser humano

Por Quê Perdoar?!

Perdoar por paixão
Por amor ao próximo
Por saudade do sorriso
Perdoar por amizade

Pedir Quando precisar??

Pedir cumprindo a palavra de Deus
Pedir pra não roubar, não matar
Pedir por e com educação
Precisar no coração e na alma
Precisar na boca e no estômago
Precisar no corpo e no abraço

P.Q.P?!

Poesia Que Pára
Pára no andar e continua andando
Pára no sorriso vosso e faz-me sorrir
Pára no ouvido e continua na mente
Poesia que Pára
Pára no fim, mas ali não morre
Pára no ponto e é a ponte que guia
Poesia gerada de geração em geração
Pára no desejo de continuar lendo
Na juventude das rugas poéticas
No talento dos futuros poetas
Pára no segundo que não pára de seguir
Pára no hoje e revive amanhã a poesia do ontem

Poesia Que Pára,
Parou!

Tacalhe, na hora de bai

Se

Se cada gesto saísse solto
Se cada desejo tivesse corpo
De uma rocha de sol
Se cada lágrima cavasse a alma
E túnel fosse onde coubesse
Se com a força dos meus dedos
Rasgasse o vento […]

Tacalhe













Morreu ontem o poeta e diplomata Alírio Vicente Silva (27-4-1943 – 22-12-2012), que utilizava o nome Tacalhe (anagrama da palavra Calheta, a sua terra natal), para se identificar no mundo literário e fintar a PIDE. Será que é desta que a primeira rua urbanizada da minha terra (que virou cidade) vai ter finalmente um nome? Ui, verdade seja dita: a concorrência é forte! Em todo o caso, o doutor Alírio merece alguma coisa, porque foi um bom rapaz, amigo da sua terra e da sua gente. Aliás, agora que a cultura está na moda, espera-se ao menos que a casa do Sr. Vicente Silva (pai), ainda em pé, seja transformada em alguma coisa como casa da cultura ou biblioteca municipal. Da casa do Sr. Velhinho, com cara de museu da poesia, falaremos em outra hora. Por agora, só um «tchau-tchau» ao doutor Alírio.

22/12/12

Natal do Meu Tempo

Balões no ar, doces na mão, cantigas na boca. Natal das crianças. «Boas Festas»! Era assim que começava o natal lá em casa, sempre com uma semana de antecedência. Meu avô, um velho reformado, trazia o gira-discos para o centro da salinha. Sozinho, todo o tempo do mundo era para o seu Luís Morais. Mamãe-Velha circulava do outro lado da casa, a confeccionar os doces da época. Dias de vinho e bolos. Jarros de sumo à mesa. Primos e primas, do campo e da cidade. E pela vida, conheci outros natais, com flocos de neve e lareira em casa; mas nenhum tanta saudade me traz como o natal do meu tempo.

Vida crioula – na ponta de navalha (fragmento)



“Limária vagabunda”. É com esta palavra que Djonsa Preta fere a consciência de Luluxa. O tempo está calmo, muito calmo. Único sinal que quebra o silêncio da noite é de cri-cri de grilos. Rasto tímido de clareira desenhada por cafuca, o famoso candeeiro de pobre, percorre em faixas na casa-quarto. Garrafões no chão, mochos fazem companhia a mesa de formica, uma faca abandonada depois de ferir o pão. Constituem arranjos de casa-quarto, outros elementos; teia de aranhas que namora o toro de purgueira abana depois de soprados pelo ar da greta do telhado de tambor.
Djonsa Preta, de cara fechada, grita bem alto, berra com desespero de causa. A Luxuxa, prendada de má conduta, está quieta. Não pia, nem ata e nem desata. Silêncio total. O esgar de Djonsa Preta atrapalha o seu olhar de homem traído. Engole em seco, morde a língua e questiona o vazio. Aos olhos, a raiva questiona. «pamodi minina! Bé minina»! À sentenciar a sua bondade para com a Luluxa.  «cusé qui-m faseu, minina»? Suplica derrotado. O rosto preto de Djonsa Preta fermenta de dor. Torrões de lágrimas, ranhos, escorrem no rosto. A Luluxa, saluça timidamente. De cara no chão, treme os passos. O desejo dela era pedir que o chão a sugasse. Viajar no tempo para nunca mais voltar; pelo menos o registo momentâneo de um hipotético escândalo comunitário seria facilmente atenuado. Só se ouve murmúrios do casal. Na Achada Ponta não se vê vivalma. O vento varre o chão, levando consigo os restos quotidianos; saco de plástico, papel, palhas seca. Em frente do quintal de Nha Porfica, a cabra de boca mepu, a Alzira, dorme no silêncio da escuridão da noite. Na casota improvisada, a limária aconchega-se sofredoramente de barriga vazia. A dona Porfica é uma velha octogenária, vive sozinha na humilde casa coberta de palha. O vento sopra suave para o firmamento, levando consigo a zaragata conjugal para outra margem. Na Praia negra de Pedra Badejo, o ambiente é de vazio. Lusco-fusco, de pescadores no caldeirão da noite, desenha esperança de um ganha-pão da comunidade. O mar de negrume deixa-se mostrar o corpo de barriga cheia de peixe e de sonhos. O Djonsa Preta não foi trabalhar. O mar percebe o sentimento de um homem traído. 

20/12/12


Elogio À distância e Às memórias
[Um. Do Algarismo Romano]

Sem inversões de marcha, o cardume cabo-verdiano ainda na aba do chapéu [esta angústia de repartir o pão com a navalha] tinha na boca o remendo da viagem: de chegar de improviso, trôpego e com a sede aguda das águas claras da ilha de Santiago na língua. A Cidade Velha com os seus Hunos guerreiros espraiados nas pulgas dos gatos inventara a tecnologia de como beber a frescura lírica da Lua. Outrora íamos de relampejo pregar partidas no transbordo dos navios transatlânticos nos senis recados dos curandeiros — e pouco saíamos da órbita para não desarrumamos o Universo — que Mindelo soube imitar. Teleguiávamos as coisas que subiam aos juncos dos céus: como os papagaios na transportação da chuva e os sóis siameses agarrados na cintura da fruta ou engrampados no voo das aves — a migração dos crustáceos. Caminhávamos à procura do pão da linguagem na embocadura do porto, contrabandeamos retratos insolvíveis nas paragens onde íamos semeando as plantações genealógicas da seca. A nossa sina é colar vírgulas em todos os nomes esdrúxulos nas estações do comboio e acentuações tónicas no cais dos continentes noturnos no desembarque dos camponeses. A trajetória moída para ser a língua do sal ou azul uniforme da Europa metropolitana no útero embrionário e marítimo que dá vida à Veneza das alucinações ― donde se julga virem todas as espécies in-vitro da experiência divina; ou ainda, da primeira América marcada com um xis num erro de cálculo na fabricação de impérios. Nenhum Cabo Verde por engano, que não seja tão-somente a demora longínqua do Cais Velho da Alfândega da Gamboa ao sacudir o arquipélago nos chifres das cabras. Elaboramos o abismo — a asa que queima a borboleta — por termos o chão efémero da aragem guardado entre as areias da praia de São Francisco e o fim do mundo. Evitamos a água da África, presumindo que toda a aritmética do azar faz-se no derrube convencional do Pico de Antónia fresco na sua escama de animal aquático.  

Bruno e Shmuel II


Bruno tinha que ser o maior explorador do mundo, para encontrar um judeu Bom. Começava assim a tomar conta da dura realidade, que mais a frente o iria afligir. Aquilo que não compreendia nas palavras do esfomeado Shmuel, seu amigo do outro lado da história, começara a entrar-lhe pela casa através das leituras obrigatórias do livro do começo perfeito. Até ao momento de uma conversa franca com a irmã, já tinha lido que o maior objectivo do Judeu é controlar o mundo. O judeu não é criativo, mas destrutivo. Engraçado como até então ele tinha achado seu pai um homem bom, o Shmuel um menino livre e os adultos, pessoas que não sabiam decidir o que queriam, ao pensar no Médico que descascava Batatas na fazenda onde as pessoas vestiam Pijamas.

Aconselhado a orgulhar-se do trabalho do Pai, os seus olhos de boneca começavam a ficar desconfortados com o despropósito com que a mãe chorava, e o sorriso hipócrita e ridículo com que o Pai se lhe apresentava. O reconfortava o avistar do seu amigo Shmuel, com quem jogava xadrez. É certo que  se magoaram uma vez, quando perante o acto  inquisitório de um soldado fedelho, o Bruno teve que mentir para salvar a sua, claro restando para o shmuel, que teve que apanhar no caco dos olhos. Porem entre grandes amigos, pessoas que gostam, as diferenças de esbatem com facilidade e velocidade de luz, se pede desculpas e se perdoa. Dias depois estavam sentados, cada um do seu lado artificial da história, a jogar a tal coisa que vou aqui chamar xadrez, por lhe desconhecer o nome próprio.

Mas o que separava os dois lados de uma história artificial, o mundo do bruno e o mundo do shmuel? Dois Alemãozinhos, em que simplesmente um era Judeu, o Shmuel. Uma diferença não tão simples, que se via na dignidade de dar um enterro de todos os adornos a um, e do lado de lá, o terror proporcionar ao outro uma morte sufocada numa câmara de asfixia, de morte lenta. Na verdade, se os dois crescessem e chegassem a idade de morrer naquele estado de coisas, o quão diferente ia ser a morte dos dois homens de xadrez e de confidências.

Todos os dias o Bruno sentava no balanceador, um lugar bem a vista e aos cuidados da mãe. Foi assim até ao dia em que o menino de olhos de boneca tardou em voltar do encontro com o seu amigo, para a solitária brincadeira da roda. Naquele dia, tirou sapatos, tirou boné, tirou roupas e virou judeu, de forma inocente, tão inocente como o Shmuel aguentara os dias daquele campo. No fim o Bruno ia partir o Shmuel ia ficar sem seu amigo que o visitava e levava comida. Iam se separar, neste tal dia em que apenas quiseram se ajudar. A missão, porem, era dentro do campo da morte.

O resto do filme é o resto, é aquilo que a ideologia e os extremos nunca são capazes de se livrar. São os artifícios da política no geral, invenções históricas, recriações mentais inúteis, os discursos falsificadores para separar, adulterar, justificar e legitimar. O resto é aquilo, que no livro do começo perfeito, não separou Bruno e Shmuel, que tiveram a capacidade de amar na amizade, perdoar, e seguirem juntos numa missão. É aquilo que fez com que não desse certo a vida do Bruno e do Shmuel, que faz com que não dê certo a vida de Israel e da Palestina.

O resto é um drama dramático. 

19/12/12

Rapízius

O caboverdiano tem de deixar de ser carrasco de si próprio.
Aborrece-me a atitude de cabeça sem ambição e de cabeça de pobre que enferma as ilhas e muitas vezes as iniciativas dos outros, dos sonhadores e dos ambiciosos.
Li no ASemana o empreendimento para Jon d'Ebra em S. Vicente, um bom empreendimento que vai gerar muita coisa de bom para a Ilha e Mindelo. Mas os carrascos, os matadores do futuro, começam já a comentar, questionando o acesso ao lugar, o turismo interno e outras coisas aberrantes, como os impedimentos de os naturais de lá irem gastar e se divertirem no máximo. Não deixa de ser uma atitude de coitado, aquele que dorme com a cabeça por lavar, com o seu trapo, com o sovaco embutido na charneca da sua mente doentia, que só a morte é o remédio santo.
Felismente, e felizmente, há uma juventude esclarecida que já sai para muzicar na rua junto dos ouvidos moucos, que querem trabalhar, que desejam ser gente, vivendo da sua renda na su...a ilha natal e ali progredir e construir o seu futuro.
Espero que seja esta mesma juventude a fazer frente aos carrascos das iniciativas dos outros, sobretudo iniciativas que trazem valor acrescentado à vida das ilhas.
Espero que o grande empreendimento se realize e depressa, para que a cidade que me viou nascer entre numa nova dinâmica de trabalho, de rendimento, de oferta e edificação de espaços que enobrecem S.Vicente, gratificam os empreendedores, e os cidadãos de boa fé deste país.
Espero ver aviões em Cesária Évora, passageiros, taxis, gente nova, novos hábitos, vendedores, guias, casas de lazer, casas de pasto, restaurantes, ateliers de artezanato, carnaval, São SIlvestre, Dia de Sâo Vicente, a movimentar dinheiro, beneficiando, também, a minha querida ilha de Santo Antão que tem muito para oferecer aos visitantes.
A minha esperança é, também, antes de morrer, ir lá conviver com o belo, desfrutar o ambiente, comer, dançar e, porque não, tocar as minhas músicas apoiado pelos belos instrumentistas de Mindelo, sem olhar para quem tem, quem não tem, cor e raça.
Não sou carrasco, nunca fui e peço aos meus admiradores e amigos que não o sejam, nunca, de ninguém e de nada... Txâ VIDA vivê... e txâ contecê!....

Bruno e Shmuel – I


O quê é que um Pai não faz para fazer um filho se sentir importante? O meu me dizia que tinha que ser músico, quando eu estava interessado era em dar chutos na bola. Apesar de ter trocado esta hipótese pelos chutos, ser músico até hoje me parece uma coisa importante, uma das tantas coisas que fazem uma pessoa importante e que não consegui concretizar. Claro que para ser músico ele tinha que me mandar para a escola, E mandou-me para onde eu ia ser aluno do Luís Morais. Ao estado que vivo hoje, está claro que vacilei. Eu queria era os chutos e me chateavam as tretas do Tio Luís, em obrigar a nóis, os que jogavam a bola com tampa de garrafa ou semente de tambarina no pátio do liceu, apanhar no mínimo duas palmatorias  que depois de uma contagem manhenta se transformavam em dez, vinte ou trinta, consoante o estado de humor com que chegava a sala da Aulas do Liceu Jorge Barbosa. Depois parei com a ideia dos chutos, porque não ia dar certo, e entre vaciles e passos em diante, parece que ao menos algumas coisas vão dando certo, embora a maioria não tem dado.

Em Berlim do início dos Século vinte, a Mãe Nathalie, engavetava no imaginário do menino Ralf , o sonho de um soldado Alemão, que deveria prosperar na carreira e fazer sucesso. Ser soldado ficou na mente do menino como o significado da mais alta importância e distinção. Apostou as fichas todas na sua carreira e no seu caso deu certo. Inveja minha que na hora da sua consagração só pude ver a sua vaidade, no momento de olhar para o filho, se sentindo reconfortado com rectidão do uniforme  arrogância do desfile de estrelas ao ombro com que patenteava ao público babado que o recebera em aplausos e beijinhos no descer da escada para a festa comemorativa da sua promoção.

The boy in the striped pajamas, é no final das contas, um filme que me faz inveja, sobre um processo lento e impersetivel que é a história, embora este um capítulo nojento. Good Bye disse o músico quando o Bruno, que vinha correndo numa alegria inocente se deixou estatelar no chão. Falo do Bruno por ser o individuo central da história, aquela que irá encontrar o solitário Shmuel, do outro lado da história.

A despedida dele, o Bruno, foi uma espécie de carreira e lance obliquado dos seus olhos de boneca com raiva e saudade das brincadeiras com outros meninos, que no momento era incapaz de desprender naquela rua de Berlin. Bye-bye, roncar no pescoço fazendo-se de motores a gasóleo, asas de avião, ainda recebeu Bruno, estes tais mimos e carinhos dos seus pequenos amigos. Locomotiva, tangerinas, amor de mãe, vapor, fumo, mata, mapa, Alemanha da guerra nazi. Alemanha do Inocente, meu querido Bruno.

Os olhos de boneca do Bruno, não sei se ficaram encantados com a casa nova. Olhou para tudo ao seu redor como coisas que estavam desencontradas. O soldado chefe saio, outros menores ficaram rondando pela casa, esposa feliz, filha penteando as bonecas. O bruno não se comovia nem com os mimos, nem sorrisos tão gentis, carinhosos, divinos mesmo da mãe, aquela que olha para o filho como o herói que mandou da sua barriga ao mundo, mas espanta-lhe a racionalidade do menino dos dias da guerra. Meu Deus  com que tanto apares de olhar eu era capaz de encarar um soldado, como fez a esta hora da madrugada o bruno. E do mesmo relance enquadrou o outro lado, o lado do judeu, também meu querido, depois de interrogações infantis à querida, amada e linda mãe.

A casa para onde se transferiu em segredo era numa fazenda, onde ele constatou que os fazendeiros vestem pijamas  Mas meu Deus  como aquele menino não queria dar uma chance à casa nova, àquele lugar, fazendeiros de pijama, e o Pai pedindo com tanta solenidade, ao mesmo tempo que ao filho tentando justificar o emprego com a necessidade de um País se sobreviver à uma guerra.

Fazia asas de avião quando seus olhos de boneco encontraram com a porta de saída pela primeira vez. Sua primeira exploração foi interrompida pelos cuidados da Mãe. Mas estendia-lhe as asas, a petulância do professor, ao exigir-lhe a leitura do livro do começo perfeito. E no entanto pulou por uma janela. Era o meu bruno explorador…

Huff, fiquei cansado, e queria ver mais. O bruno dizendo maravilhas do seu mundo. O outro lado do mundo e da história, o triste, solitário, coração ausente, O Shmuel. Na verdade vivendo na sua pele o retrocesso da história… (Mais logo Há mais)

hahah, apresento-me. Sou da Burdeira e gosto de contar estórias de cinema em épocas de Natal. Por isso desejo, que comecemos um feliz Natal, neste lugarzinho lindo e tão gostoso. como alguém de génio, inventou chamar-------palmanhaempasargada. 

17/12/12

"Lisboa poetisa fundida na Grécia da porta"

 
Lisboa poetisa fundida na Grécia da porta
Uma criança debruça-se no bago da fruta
e mama as indumentarias doces do Tejo
O outro menino desce das lâmpadas
para ter outra roupa avessa na infância
nó apertado de fôlego vivo na chuva

Caí brusco das mãos da areia acesa no voo
para dentro do caroço lúcido da metrópole
distante a cidade da Praia árvore embutida
de cabeça para baixo num copo com água
Relincha os bárbaros da eletricidade do sal
as piruetas pornográficas do vinho poligâmico. 

14/12/12

Morna, a alma deste povo crioulo


MORNA, A ALMA DESTE POVO CRIOULO

M            Meus parabéns a Morna
O             Obra Ancestral da Terra
R             Ritmo cadenciado na saudade
N             Nobremente é Património Nacional
A             A Alma deste povo crioulo!

COM RIMA

MORNA, A ALMA DESTE POVO CRIOULO

M            Meus parabéns a jovem menina Morna
O             Obra Ancestral de Cabo Verde Musical
R             Ritmo cadenciado na enorme saudade
N             Nobremente é Património Nacional
A             A Alma do povo crioulo maior se torna....

13/12/12

The Hobbit: An Unexpected Journey

This is my rum! (ING)
Este grogue é meu! (PT)
(Fala de um dos três orcs fedorentos enquanto fazia uma canja.)
 
A trilogia The Hobbit já cá canta! À matar, eis que no meio da primeira parte do longo filme vejo na tela uma expressão que me é familiar: «grogue». Depois de quase três horas, perguntei-me: será que algum crioulo anda no contrabando de «grogu fedi» para os orcs da Terra Média? Ou os tradutores portugueses descobriram a fórmula secreta do grogue de Picos? É coisa para dizer, se a China não tomar cuidado, Cabo Verde dominará o mundo em breve. E nada mau começar pela Terra Média, que está no centro das atenções nesta época natalícia.

O filme começa com algumas cenas de The Lord of the Rings, quando Bilbo decide contar ao Frodo mais um bocado da sua história. Logo, transporta-nos para a magia, a aventura e a fantasia em Terra Média. Entretanto, tal como no livro em que o filme se baseia, The Hobbit conta a história do princípio, desde a saída de Bilbo Baggins do Condado, depois de uma misteriosa visita do feiticeiro Gandalf. A missão desta viagem sem certeza do retorno prende-se com a necessidade de ajudar Thorin e os seus 12 amigos anões (Fili, Kili, Nori, Dori, Bifur, Bofur, Bombur, Gloin, Óin, Ori, Balin e Dwalin) a recuperarem o seu palácio. Pelo caminho, Bilbo rouba o Anel do Poder que estava na posse de Gollum. Depois de enfrentarem vários obstáculos, eis que o filme se acaba quando avistam a Montanha Solitária, no coração de Terra Média, onde o dragão Smaug vigia um palácio cheio de ouro.

11/12/12

A Infância dos Bichos

Um frenesim de formigas vermelhas vieram salgar a língua na copa das árvores, as mães se dispuseram a partilhar as refeições com os os insectos do domicílio. Foi assim durante muitos anos no Liceu Domingos Ramos – o Copérnico [o bicho-carpinteiro que foi bisbilhotar a roupa interior do Sol e apanhou um susto de morte] não tinha a mínima noção de como circular e lamber os rebuçados dos olhos das fêmeas dos cavalos. Era no farol do Seminário S. José (ainda ontem lembrava-me o meu amigo), que as moças namoravam pela primeira vez, tinha mais graça se assim fosse, por que íamos pondo um pouco de veneno na boca do Deus-rei. O que era moda nas noites de lua cheia, nos idos anos oitenta, era forrar a capa dos cadernos quadriculados com os jornais, esconder os fantasmas nos estojos das meninas e o enterrar das moedas debaixo das pedras. A beleza estava em avistar as camisas amarelas das crianças da Ilha do Fogo no cimo do Monte Preto, no nosso quartel infantil sobravam sentinelas para vigiar os peixes no tanque.

10/12/12

Regras do Jogo

No deserto a pregar
Teve um pobre João
Este aqui sem coração
Nem sabe como amar
Muito menos fazer de Santo
E de troco o silencioso lamento…

Para melhor estar

Nesta vida de contraste
Quero ter de dizer-te com arte
Que vou-me então calar
E para as regras do jogo
Responder-te-ei apenas... Digo!

Coração Entediado


Quando ele, o Roberto regressava de São Vicente, aos domingos a gente ia jogar a bola. De segunda a sábado, sempre depois do almoço, ele e o Marcelino iam deitar de costas para o chão no fundo de um rego em baixo de uma mangueira. Os seus corpos frescando sobre uma respiração afável da terra, enquanto iam conversando sobre os ciclos da agricultura e as coisas passadas na sua ausência, para chamar o sono. Sempre um dormia primeiro e o outro por alguns segundos ou minutos continuava conversando sozinho, até que o sono dele chegava. O dele não sei, (se fosse hoje eu lhe perguntava) mas o dele, Roberto, seu sono, era um meio sentir de cosmos, sonhos de meio acordado, num brilharete do vento dançando sobre as folhas da mangueira. Era um sono meigo, que repunha as energias eléctricas do seu corpo. Era um sono leve, de lavar e purificar, de deixar tudo no seu lugar e num estado de absoluta mansidão, naquela ribeira onde durante a tarde, só se ia escutar o repercutir da enxada volvendo e formando finos caroços de terra molhada. As tardes eram de dois solitários. Eram do esforço físico de execução do trabalho que cansava o corpo, mas que electrizava os nervos, deliciava os ouvidos, aquele barulhozinho comparado de enxadas, quase sempre como percussão de tambores de pele bem puxada. Ensinou-lhe tanta coisa, sobre agricultura. E sempre lhe convidava, àquele tal gesto de escorrer um trago pela garganta, bater a mão afirmativamente no peito.
 - Material bom da terra.  
Geralmente acordavam, logo que as primeiras sombras começassem as descer pelos cantos do círio. Ele tirava a preguiça do corpo, tomava um trago e repetia sempre.
- Esta vida é dura, não fui mas tu tens que continuar na escola.
Retomavam o trabalho da enxada para o que faltava do dia, ele mais treinado do que ele, o estudante chegado de São Vicente, pele clareada pelo arzinho do mar de Mindelo. E ainda já grande, quando deixava a ilha chorava sempre, as vezes três dias seguidos. Por isso, e hoje quando seu coração fica entediado, lembra que não gostava de ver o barco atracar, jogar-se nele como piolho, no mar sem figueiras, nos braços e nos balanços do mar de São Vicente. 

09/12/12

(Matarei a morte, eu juro)

Serei o cara que vai ferir a morte, num ato fino de linchamento, matar a morte, de “morte morrida”. Seduzi-la, trazê-la do além, convencê-la do seu total poder sobre a vida. E não terá fogueira nem ritual. Recebê-la-ei nas cordas vocais do Gilberto Gil, e na promessa da dança, e no fundo do meu quartinho estreito executar tal traição. Esmagar seu pulmão, tirá-la o fôlego,  fazê-la cadáver, estendê-la no caixão. Comigo não haverá intermitência, nem sucessora... Comigo é acabar com esta agonia, este pavor de saber que “quem vai morrer sou”, eu e o Gilberto, se não for eu a matar a morte, de morte traída… 

07/12/12

O homem de barro

Em orvalhos de sonhos
No calar da alvorada
A coruja do silêncio
Em sonos de Lua
Envolto nas nuvens
Trouxe à raiz do tempo
Atado na sua alma
O homem de barro

Entre a terra e o céu
Numa voz esquecida
Com a face do perdão
Como uma página virada
Levitando no tempo
Voou a majestosa coruja
Deixando o homem
À deriva da sabedoria

Em prosas de sombra
Em alcateias de luz
De longe o olhar da coruja
Entre os montes e vales
Divagando, sentado o homem
Em feixes de evolução
Passo a passo guiado
Em busca da identidade.

São Opções

Já a vi ser cantada
Por poetas celebrada
Em terras de tudo e de nada
Já a vi ser amada
Ao Sol e na madrugada
Por homens e mulheres partilhada
Já a ouvi ser chamada
Pelo sorriso da criançada
À roda e em forma de tabuada
Já a vi ser criada
Na praia, no quarto, numa escada
Pela alma sempre apaixonada
Já a vi ser abençoada
Pelo homem e a sua amada
Numa aliança divina conjugada
Já a ouvi ser julgada
Pela mente na ignorância soterrada
Como um mastro de piada
Já a li num conto de fada
Por amor, salva pela espada
E no amor muito bem guardada.

05/12/12

Mundos Contrários

Na pedra do corvo
Como no céu do nunca
A silhueta hiperbólica
Tão longe da alma da gente
Em dias de rafeiro, a noite
Ampara o soluço do ninho
De mares quebrados em ondas

É saudade
Tão fria como o carvão da memória
Esquecida no lume das migalhas
Na pedra do corvo, a noite
Tão clara como a voz do sarcófago
Dizimada pela dinastia da alma
Em mundos contrários deste mundo

Não faz sentido
Caber no dedo e não na presença
Ter o medo da viagem
Sem arredar os pés da pedra do corvo
Plantando a cabeça na glória
De paz inglória do vento de leste
Deixando no dedo a poeira do ninho
Tão vazio neste mundo de mundos contrários.

Soldados de honra

a minha vida são vidas esquecidas,
passados fragmentados no meu espírito de guerreiro.
são sonhos perdidos nos vultos que me abraçam
conduzindo-me ao intrínseco monte da duvida
em que cada fracção da minha visão
são meros "deja vu"'s dos quais me apercebi.

levo à minha frente a imagem de mim
e atrás, arrasto as cinzas dos mundos por onde passei.
a minha vida é assim, um sacrifício, um sacrilégio.
derrubei sonhos por sonhar muito,
derrotei muitos por amar tantos.

entre murros, terras, ventos e chuvas,
perdi-me no sabor da discórdia,
ganhei nada nos desertos alheios onde pisei
levando nos braços as almas de muitos irmãos
e nas mãos o seu sangue derramado.

«Memória...» | A História da Intriga Daria um Romance

Quem não conhece a expressão «fládu-flâ» (falado falou)!? Ok, é isso aí! A intriga palaciana é uma coisa antiga em Cabo Verde. Lembram-se que, depois de 1462, toda a casta de gente desembarcou no solo caboverdiano. Fidalgos, criminosos, aventureiros e escravos. Homens e mulheres. Desde aquele tempo remoto, a intriga fez a sua caminhada até aos dias de hoje, das novas tecnologias. A intriga por si só daria um romance, não apenas uma ficção histórica. Basta estar atento à actualidade para se enxergar uma certa modernização do acto de intriga. Da vida quotidiana à alta política, nada passa ao lado da intriga. E, se calhar, a intriga tem a força de fazer as coisas acontecerem: na vida quotidiana, se alguém disser que fulana está grávida, a barriga despontará mais cedo do que tarde; na alta política, um pouco por todo o arquipélago, quantos não vivem da intriga? Este intróito é para partilhar convosco duas notas de um ex-governador de Cabo Verde sobre a intriga:

«A experiência tem mostrado [...] que os homens (sic) [...] de noute se empregão invariavelmente em deboche de jogo [...] e bebidas espirituosas e de dia a intrigar por mil meios differentes, naquelles dias em que se levantão com força para isso; porque naqueles dias em que estão tão debilitados que não podem nem com este trabalho dão parte de doentes e então intrigão deitados. Em Cabo Verde, tive muitas e muitas semanas, em que só estavão promtos eu e hum preto official da Secretaria, porque todos os outros tinhão dado parte de doente, entretanto todos intrigavam incessan-temente.»

«Em política, há ridículos intrigantes, que fazem profissão e vivem d’intrigar por casas particulares e por entre os seus amigos, a fim de com huma impostura da maneira política mais da moda, e que então tem mais venda, se possam introduzir e colher aquelles interesses, que por meios de honra não lhes seria possível [...]; essa espécie de mascateiros hé horrível nas sociedades, e desacredita o systema político a que se encostão, e a que fingem pertencer» (cf. DP).

Quem não vê a actualidade destas passagens?! No livro de Daniel Pereira, há mais passagens que merecem uma leiturazinha nos dias de hoje.

Ps.: Joaquim Pereira Marinho, português, foi governador de Cabo Verde por duas vezes (1835-1836 e 1837-1838), num tempo em que os governadores mal se sentavam na poltrona saiam de lá a voar (por intrigas, claro!).

O MERCADO DA PRAIA

O MERCADO DA PRAIA

O Mercado da Praia
É mais que um mercado
Tem bebé deitado
No berço que é pedra fria
Num reparador sono dormindo
Enquanto a mãe continua vendendo
Para o sorriso e a alegria
Dos irmãos ainda crianças
Cheios de imaginações e crenças
Brincam atropelando fregueses e revendedeiras…
Revendedeiras que se transformam
De tantos juntas viverem
Numa enorme família
Com seus amores e seus ciúmes….

João Furtado
Praia, 05 de Dezembro de 2012
http://joaopcfurtado.blogspot.com

04/12/12

Cognome, Heterónimo do Vândalo

A minha invenção é um erro
anacrónico de Deus esgotado
numa espécie de bruma seca
Na minha vida passa qualquer coisa
que seja densamente intransponível

Eu próprio: este operário de pedra vulcânica
de instalação neurótica avariada
sem qualquer ânimo respiratório
Um organismo mecânico de pedra polida
protótipo fotossintético pelos sinais do destino
Um pedregulho excêntrico
mergulhado de cabeça para baixo

Há muito que não me revia neste relance
pouquíssimas vezes inclino-me
para perscrutar a crepitação do meu cadáver
obsoleto, só para facilitar a vida.

Lisboa, Portugal

03/12/12

O mundo às voltas

Em Cabo Verde, nos anos 90, aprendemos a trabalhar com o computador! Nos dias de hoje teremos que aprender a trabalhar sem o computador! As voltas que o mundo dá...

02/12/12

"Modos submarinos de respirar árvores" 

Modos submarinos de respirar árvores
os telespectadores que me acompanham
− textos e imagens –

Noutro parágrafo em vidro
o mar precoce e sem fôlego num pedaço de pão
suspenso na corda e no útero duma galáxia  
− ruídos e vícios –

A pornografia lírica da Lua nos brincos da moça
o maxilar do violão morde a planta do seio
− Diabo e sexo –

Trancamos o pássaro nas duas mãos
soltamos os relógios a algazarra dos dedos.  

Lisboa, Portugal

30/11/12

Passos Coelho Quer Tcholda

Fotos: Os Suspeitos.
Passos Coelho vai a caminho de Cabo Verde, mais concretamente para a cidade do Mindelo, ilha de São Vicente. Dizem ser qualquer coisa como uma cimeira PT/CV, que já começou a «dar bronca» entre a situação e a oposição. Entretanto, não se sabe bem os contornos de tal re-centrar da parceria económica e empresarial. Num momento em que ambos os países já apresentaram a sua mixórdia truculenta orçamental para 2013, fica-se sem saber se Passos Coelho vai de férias ao país das maravilhas (ups, morabeza) ou vai para dar/sacar mais ideias: duodécimo já canta, cá e lá! Com a diferença que nós os crioulos somos mais criativos, ou seja, o que Passos Coelho ensaia fazer, nós aplicámos na íntegra. Também falta saber o que ele vai lá fazer acompanhado com tantos ministros do seu governo (será que vai também o outro ministro, aliás antigo ministro, para ajudar a «abrir mares»)? Bom, depois do cafuné da Sra. Merkel, parece que Passos Coelho quer tchoda dos crioulos...

29/11/12

DE ARLETE PARA MIM E O MEU PARA A ARLETE

A minha amiga Arlete
Resolveu fazer-me um poema
Hoje escolheu PARABENS como tema
E eu gostei e fiquei muito ciente:

Parabéns João Furtado

P arabens neste dia te venho dar
A migo, irmão, parceiro de letras
R aras as amizades verdadeiras
A rlete Piedade e João Furtado
B ons sócios e amigos fraternos
E s o irmão que me faltou na vida
N ascido em linda terra distante
S incero e puro coração diamante!

J amais pensei encontrar um irmão
O mais diferente possivel de mim
A mbiente e cultura da lusofonia
O amigo leal que me dá alegria

F uturo nosso, sempre juntos
U nidos em torno da literatura
R adiante com a nossa parceria
T raduzida em obras de magia
A migo, que tenhas neste dia
D oses imensas de muita alegria
O s amigos e familia a teu lado!

Arlete Piedade



E eu, pobre de mim
Respondi aquele belo poema
Com este pequeno poema
Em acróstico também é assim...



ARLETE PIEDADE

A  A alegria vem em pequenos gestos…
R  Radiante fiquei com o teu acróstico
Lindo e bem formatado, amiga
E  E muito agradeço, sinceramente
T  Tanta gentileza da tua parte
E  Escreveste com coração e li com emoção!

P  Palavras me faltam para dizer
I   Imagina só, uma única palavra
E  Eu… Senti os meus olhos molhados
D  Dizer apenas obrigado com que palavra?
A  Amiga, tu és uma irmã, tu sabes
D  Divertimos e escrevemos juntos
E  E do esforço… Resultou esta Amizade, obrigado!



Praia, 29 de Novembro de 2012

João Furtado

http://Joaopcfurtado.blogspot.com

27/11/12

Pa ka skesi Eneida Nelly

Entri Tejo y Fontom

Buké di solidon botadu pa altura
Sem txom pa kai sem bentu pa leba,
Ta flutua entri rodadas d'um relogiu!
Dos pontus ekidistantis k marka um kruz sò.

Um rio, um làgua, um mar, um mágua...
Que diferença faz?
Se riu tem agu, mar tem onda,
Riu ta kori miúdu e mar ka tem tamanhu?!

Si n'ta djobeba fontom, n'ta kudaba Tejo k dia n'ta txiga,
Gosi riba Tejo alem ta fla, fontom é ti k tempu...
Rola na rea di odju fitxadu, ka tem ponta...
Boa atoa sem pensa na nada, sabendu so ma ntem k nada
Undi k mi é turista y gia de nha sonhu na nha mundu!

Nlarga tudu, ndexa tudu, ku xintidu na bem buska tudu!

Mas nhaguenti ntroka nha nada xeiu ku um tudu basiu, sem nada!

Si ndistroka é dirota, si mpara é kobardisa, pa diante nka konxi kaminhu...

Riba di dos brasu d'agu sem azul, djam manda fla até um dia nha mar azul!


Eneida Nelly, sukutam (2011)

25/11/12

((()))


E de seguida erguia o dia, 
Frias folhas de laranjeiras,
Começos em manhãs de pratas

A terra e a enxada,
A merada e a tarimba,
O tempo e a merenda,
O vento e a tardinha

De signo, camponês,
De sonhos, Holandês

O campo e o gado,
O canto e o conto,
A lanterna e o compasso,
A vereda e o abrolho

E menos dos oito, eram anos
Do tambor, da idade e dos segredos.

24/11/12

Their Eyes Were Watching God

«There is no book more important
to me than this one.»
Alice Walker.

Obra-prima de Zora Neale Hurston (1891-1960) e uma das mais importantes obras da literatura americana do século XX, publicada pela primeira vez em 1937, Their Eyes Were Watching God conta uma história de uma mulher negra que embarca numa longa viaja de autodescoberta. Janie Crawford, aos dezasseis anos, é uma jovem desempoeirada obrigada pela sua avó moribunda a casar com Logan Killicks, um homem mais velho e grosseiro, que ela despreza e descarta na primeira oportunidade. Janie decide fugir com Joe Starks, um homem citadino cheio de sonhos e projectos ambiciosos. Juntos seguem para Eatonville. Ali, mal chegam, Joe conquista um lugar no coração do primeiro condado negro em construção, tornando-se o seu primeiro presidente da Câmara Municipal, chefe dos correios, lojista e proprietário de terras. A ambição pelo poder torna frágil a relação deste casal. Com a morte de Joe, Janie liberta-se das convenções matrimoniais. Ignorando as más-línguas de então, ela apaixona e entrega-se de corpo e alma ao amor de um jovem trabalhador de espírito livre muito mais novo do que ela. Tea Cake e Janie protagonizam esta emocionante história de amor e de liberdade no Sul dos EUA, então marcado pelas leis segregacionista e em plena luta pela afirmação das comunidades dominadas e marginalizadas. Através do amor, Janie reencontra a paz interior que tanto procurava. A narrativa dessa história muda da terceira pessoa para uma mistura de primeira e terceira pessoa, desenvolvendo uma trama a partir da experiência das mulheres afro-americanas, jovens e que prezam a sua individualidade contra os apelos moralistas de uma comunidade dominada onde as mulheres são evidentemente as que mais sofrem de todas as discriminações racistas e sexistas. Mas, longe de qualquer vitimização, a história ganha pelo realismo e pelo conhecimento profundo da vivência numa pequena comunidade, longe do asfalto e das luzes das grandes cidades americanas. Tão bela é a história contada que a apresentadora Oprah Winfrey considera que esta é a sua «história de amor favorita de todos os tempos», tendo, por isso, optado por produzir um filme baseado neste romance e escolhendo como actriz principal a bela Halle Berry.


A vida de uma escritora negra nos EUA

Zora, romancista e antropóloga, nasceu a 7 de Janeiro de 1891, em Alabama, tendo vivido em Eatonville, Florida, desde a sua infância. Foi aluna de Franz Boas. Teve uma carreira de altos e baixos, durante mais de trinta anos. Foi contemporânea de grandes escritores afro-americanos entre o período do Harlem Renaissance e o fim da guerra da Correia. Toni Morrison considera que «Zora Neale Hurston é uma das maiores escritoras do nosso tempo.» Contudo, esta escritora foi silenciada depois do início dos anos cinquenta e recuperada só no final dos anos setenta. E tornou-se uma referência da literatura americana e uma pérola da comunidade negra.

Durante a vida dela, ela foi aclamada, teve glamour e uma vida louca, com amores e desamores. Porém, em 1945, vendo para o caso de muitos dos seus colegas negros e pressentindo que também ela iria morrer na miséria, decidiu persuadir W.E.B. Du Bois a comprar um terreno baldio na Florida para criar um cemitério de afro-americanos ilustres, a fim de não serem enterrados numa vala comum. Dizia ela, «temos de assumir essa responsabilidade, para que as suas sepulturas sejam conhecidas e honradas.» À primeira, W.E.B. Du Bois torceu o nariz, mas depois caiu na real e acabou aceitando. Pouco tempo depois, ela morreu e na miséria total, a 28 de Janeiro de1960, aos 69 anos. Teve um funeral miserável, que só não foi pior porque os seus vizinhos organizaram um peditório para custear as despesas mínimas, sem direito a uma pedra tumular. Foi enterrada numa sepultura cuja identificação aconteceu em 1973. Na altura, meados dos anos setenta, a então jovem escritora afro-americana Alice Walker (a autora de The Color Purple) fez uma longa viagem para colocar uma pedra tumular na sepultura de Zora, no cemitério segregacionista Garden of the Heavenly Rest, em Fort Pierce, Florida. Alice Walker encontrou o cemitério abandonado e cercado de cobras e ervas daninhas que lhe chegavam à cintura, numa rua sem saída. Depois, com os parcos recursos que ela tinha, conseguiu comprar uma pedra tumular (não aquela que ela pretendia), mas uma lápide cinzenta e simples, ornamentando com um epitáfio: «Zora Neale Hurston, Um Genio do Sul.» Depois desse gesto de Alice Walker e dela mesmo ter se inspirado no trabalho da escritora morta, Zora Neale Husrton tornou-se uma referência incontornável da literatura americana e feminista. 

Orçamento de Estado 2013

A política de Austeritarismo e da dividadura, como a única hipotética saída da crise levado a cabo em alguns países da Zona Euro, tem destruído os alicerces do Estado Social e propiciado um ambiente de claustrofobia socioeconómico, pondo em causa o valor da Dignidade humana.

Obviamente que políticas orçamentais insustentáveis do ponto de vista da disciplina orçamental requerem corrigir os desequilíbrios orçamentais e macroeconómicos acumulados pelos partidos do arco governativo e abrir caminho para o crescimento sustentado, porém tais correções devem de garantir uma distribuição equitativa no esforço de ajustamento e proteger as famílias de mais baixos rendimentos.

O orçamento de Estado de Cabo Verde para o ano de 2013 deve comportar verbas, que privilegiem a promoção do crescimento económico, fundamental na igualdade de oportunidades. Um orçamento prudente e ambicioso, que leva em conta os nossos compromissos internacionais inerentes a sustentabilidade das contas públicas, como também deve ser acompanhado de medidas que visam o incentivo ao empreendedorismo empresarial, a recapitalização das empresas cujo rácio da solvabilidade é vulnerável, com forte impacto na criação de emprego e na revitalização da nossa economia.

É de salientar ainda, que o instrumento de gestão das despesas e receitas do Estado, deve continuar a promoção do desenvolvimento socioeconómico sustentável, com principal enfoque para áreas de desenvolvimento rural, do combate a pobreza e às assimetrias sociais, da modernização e duma maior transparência da nossa administração pública, do investimento público, factores vitais para propulsionar a capacidade produtiva da nossa economia.

22/11/12


"Do bairro corcunda toscas marcas corpulentas"

Do bairro corcunda toscas marcas corpulentas
das águas – astros embebidos numa colher de chá
e da dura luminosidade da rua
passa a memória e passa tangente à planície
dos corpos maiúsculos Enquanto isto, o oceano
esmigalha no campo de futebol o diário frio do dinossauro
abatido à queima-roupa no espelho

Farejo a criança que cresce na crina dos galos
e os animais domésticos A infância areia no verdugo da porta
onde plantamos as fotografias e a inocência do miúdo
corroía no Monte Preto com os dedos de porcelana
ancorados no luar silencioso dos contos noturnos.   


Lisboa, Portugal