20/12/12

Bruno e Shmuel II


Bruno tinha que ser o maior explorador do mundo, para encontrar um judeu Bom. Começava assim a tomar conta da dura realidade, que mais a frente o iria afligir. Aquilo que não compreendia nas palavras do esfomeado Shmuel, seu amigo do outro lado da história, começara a entrar-lhe pela casa através das leituras obrigatórias do livro do começo perfeito. Até ao momento de uma conversa franca com a irmã, já tinha lido que o maior objectivo do Judeu é controlar o mundo. O judeu não é criativo, mas destrutivo. Engraçado como até então ele tinha achado seu pai um homem bom, o Shmuel um menino livre e os adultos, pessoas que não sabiam decidir o que queriam, ao pensar no Médico que descascava Batatas na fazenda onde as pessoas vestiam Pijamas.

Aconselhado a orgulhar-se do trabalho do Pai, os seus olhos de boneca começavam a ficar desconfortados com o despropósito com que a mãe chorava, e o sorriso hipócrita e ridículo com que o Pai se lhe apresentava. O reconfortava o avistar do seu amigo Shmuel, com quem jogava xadrez. É certo que  se magoaram uma vez, quando perante o acto  inquisitório de um soldado fedelho, o Bruno teve que mentir para salvar a sua, claro restando para o shmuel, que teve que apanhar no caco dos olhos. Porem entre grandes amigos, pessoas que gostam, as diferenças de esbatem com facilidade e velocidade de luz, se pede desculpas e se perdoa. Dias depois estavam sentados, cada um do seu lado artificial da história, a jogar a tal coisa que vou aqui chamar xadrez, por lhe desconhecer o nome próprio.

Mas o que separava os dois lados de uma história artificial, o mundo do bruno e o mundo do shmuel? Dois Alemãozinhos, em que simplesmente um era Judeu, o Shmuel. Uma diferença não tão simples, que se via na dignidade de dar um enterro de todos os adornos a um, e do lado de lá, o terror proporcionar ao outro uma morte sufocada numa câmara de asfixia, de morte lenta. Na verdade, se os dois crescessem e chegassem a idade de morrer naquele estado de coisas, o quão diferente ia ser a morte dos dois homens de xadrez e de confidências.

Todos os dias o Bruno sentava no balanceador, um lugar bem a vista e aos cuidados da mãe. Foi assim até ao dia em que o menino de olhos de boneca tardou em voltar do encontro com o seu amigo, para a solitária brincadeira da roda. Naquele dia, tirou sapatos, tirou boné, tirou roupas e virou judeu, de forma inocente, tão inocente como o Shmuel aguentara os dias daquele campo. No fim o Bruno ia partir o Shmuel ia ficar sem seu amigo que o visitava e levava comida. Iam se separar, neste tal dia em que apenas quiseram se ajudar. A missão, porem, era dentro do campo da morte.

O resto do filme é o resto, é aquilo que a ideologia e os extremos nunca são capazes de se livrar. São os artifícios da política no geral, invenções históricas, recriações mentais inúteis, os discursos falsificadores para separar, adulterar, justificar e legitimar. O resto é aquilo, que no livro do começo perfeito, não separou Bruno e Shmuel, que tiveram a capacidade de amar na amizade, perdoar, e seguirem juntos numa missão. É aquilo que fez com que não desse certo a vida do Bruno e do Shmuel, que faz com que não dê certo a vida de Israel e da Palestina.

O resto é um drama dramático.