A Infância dos Bichos
Um frenesim de formigas vermelhas
vieram salgar a língua na copa das árvores, as mães se dispuseram a partilhar as
refeições com os os insectos do domicílio. Foi assim durante muitos anos no
Liceu Domingos Ramos – o Copérnico [o bicho-carpinteiro que foi bisbilhotar a
roupa interior do Sol e apanhou um susto de morte] não tinha a mínima noção de
como circular e lamber os rebuçados dos olhos das fêmeas dos cavalos. Era no
farol do Seminário S. José (ainda ontem lembrava-me o meu amigo), que as
moças namoravam pela primeira vez, tinha mais graça se assim fosse, por que íamos
pondo um pouco de veneno na boca do Deus-rei. O que era moda nas noites de lua cheia, nos idos anos oitenta, era forrar a capa dos cadernos quadriculados com os
jornais, esconder os fantasmas nos estojos das meninas e o enterrar das moedas
debaixo das pedras. A beleza estava em avistar as camisas amarelas das crianças
da Ilha do Fogo no cimo do Monte Preto, no nosso quartel infantil sobravam sentinelas
para vigiar os peixes no tanque.