“Limária vagabunda”. É com esta
palavra que Djonsa Preta fere a consciência de Luluxa. O tempo está calmo,
muito calmo. Único sinal que quebra o silêncio da noite é de cri-cri de grilos.
Rasto tímido de clareira desenhada por cafuca, o famoso candeeiro de pobre, percorre
em faixas na casa-quarto. Garrafões no chão, mochos fazem companhia a mesa de
formica, uma faca abandonada depois de ferir o pão. Constituem arranjos de
casa-quarto, outros elementos; teia de aranhas que namora o toro de purgueira
abana depois de soprados pelo ar da greta do telhado de tambor.
Djonsa Preta, de cara fechada,
grita bem alto, berra com desespero de causa. A Luxuxa, prendada de má conduta,
está quieta. Não pia, nem ata e nem desata. Silêncio total. O esgar de Djonsa
Preta atrapalha o seu olhar de homem traído. Engole em seco, morde a língua e questiona
o vazio. Aos olhos, a raiva questiona. «pamodi minina! Bé minina»! À sentenciar
a sua bondade para com a Luluxa. «cusé
qui-m faseu, minina»? Suplica derrotado. O rosto preto de Djonsa Preta fermenta
de dor. Torrões de lágrimas, ranhos, escorrem no rosto. A Luluxa, saluça
timidamente. De cara no chão, treme os passos. O desejo dela era pedir que o
chão a sugasse. Viajar no tempo para nunca mais voltar; pelo menos o registo
momentâneo de um hipotético escândalo comunitário seria facilmente atenuado. Só
se ouve murmúrios do casal. Na Achada Ponta não se vê vivalma. O vento varre o
chão, levando consigo os restos quotidianos; saco de plástico, papel, palhas seca.
Em frente do quintal de Nha Porfica, a cabra de boca mepu, a Alzira, dorme no silêncio
da escuridão da noite. Na casota improvisada, a limária aconchega-se
sofredoramente de barriga vazia. A dona Porfica é uma velha octogenária, vive
sozinha na humilde casa coberta de palha. O vento sopra suave para o
firmamento, levando consigo a zaragata conjugal para outra margem. Na Praia
negra de Pedra Badejo, o ambiente é de vazio. Lusco-fusco, de pescadores no
caldeirão da noite, desenha esperança de um ganha-pão da comunidade. O mar de
negrume deixa-se mostrar o corpo de barriga cheia de peixe e de sonhos. O
Djonsa Preta não foi trabalhar. O mar percebe o sentimento de um homem traído.