27/12/12

Nascido a 5 de Julho – para uma nova largada


I.
- Terra pobre, maltratada pela seca, varrida pelo vento e resgatada pelo sonho. - É com esta frase melancólica que o poeta Fragoso descreve o novo solistício para uma nova era. A independência de Cabo Verde sopra com emoções o povo das ilhas. Ventos de sorrisos embalam os corpos dos crioulos das ilhas num salutar momento de festa. Também exige momentos de reflexões para um desafio maior; como suster e sustentar todos os ingredientes de uma natureza ingrata, tecida pelo fogo do sol e fermentada no barro da resistência. Como dar a dignidade ao povo das ilhas no momento de incógnita. A chuva, quando vem, malha a alma crioula, alimenta os sorrisos dos camponeses das ilhas. Quando falhava, era a mortandade, êxodos e processões e outros rituais que faziam fé na bondade divina. A palavra de ordem era construir, fintar o destino e fintar o tempo. Os socalcos, diques, servem de travesseiros às várias travessas, vales e cutelos das ilhas. Tratando-se de construções do desespero, de desconfiança para com o futuro.

- Fragoso, fragoso, acorda homem. Hoje é o Dia da Independência. Vamos à várzea, lá está reunida o povo. – É com essas frases de entusiasmo que Juvêncio acorda o Fragoso. Com brilhos nos olhos, a cara exclama com alegria e contentamento. A boca goteja, cuspinho de nervosismo, com palavras cortadas e gestos sinfónicos. Satisfação sim no momento impar na história de um povo.

- Calma homem. Não estou a dormir meu amigo. Estou pensando no futuro dessas ilhas. No passado ao presente tem sido duro… mas o futuro, não sei. Juro que não sei. – Com emoção e estilo ponderado que Fragoso sustenta as suas inquietações. De face, comida pelo tempo, cogita pacientemente as caminhadas nem sempre de glórias. Momentos há que a fome não perdoara famílias, haveres e afazeres. A migração para São Tomé tornara no calvário para muitas famílias. O mar de Kepona não deixara muitas saudades. Enfim os traços da história são tantos que inquietam qualquer alma. Fragoso é um homem seguro de si. Aprendeu a ler e a escrever com os militantes, pró independentista, na clandestinidade. Entrara na fileira de recrutamento de activistas políticos como forma de contribuir para a independência das ilhas. Fora preso político no Tarrafal de Santiago, antigo Campo de Trabalho Forçado. O Fragoso lembra como se fosse hoje, as atrocidades impostas pela disciplina fascista.