Elogio À distância e Às
memórias
[Dois. Do Algarismo Romano]
Correção
da largada: um ponto no “i”
grande e outro no travessão da barra que apoia a armação da chuva. Um grito de
partida transformado num animal atormentado escorre, indo de encontrão contra o
isolamento da ilha Santiago, respirado pela humanidade, que explode ao entrar
em contacto com o pulo do cordeiro [de Deus que tira o pecado do Mundo] da
ponte velha para o vidro da água da praia da Gamboa. Quando definitivamente
decidimos acelerar o relógio de corda: o fragmento da ilha tinha o globo
terrestre prestes a rebentar na pupila e a fome muito rente ao chão da viagem.
Gingava com o chão seco da sementeira — a pedir morfina nos ossos — dói-lhe a
poeira que o rebanho pasta no som da rebentação das ondas e na mão vazia de
barcos. Só de pensar no trajeto que é dobrar os mares numa colher que é levada
a boca, inclina de cabeça invertendo para a fundura da queda [Há quem caia
inteiro no buraco dos botões da camisa]. No lugar do mundo, o fragmento
vulcânico de ilha põe ovos de pátria, na tentação de semear o local de
nascença. Passa a escavar toda a terra redonda com as unhas de garfo; enquanto
os navios a vapor apertavam-se nas artérias do pássaro que transporta consigo
num frasco de vidro. De cada vez que se aproxima do nada — enchendo a cabeça da
formiga, com terra fértil do deserto da furtaria — desata a dar nó cego no
atacador do sapato. A infinita circunstância de ter sempre o Sol a espia-lo
para dentro do crânio, afugentando os seus demónios ao bramir dos gados —
rituais domésticos orquestrados, gestos repentinos de camponeses dando linha à
pesca dos arbustos e de um pouco de lume de panela na bombagem do combustível do
motor avariado.