03/01/13

Quando a Alma Chora

- Como vai a vida?
- Não muito bem, hoje em dia em que a alma chora ao pôr do Sol, quando o espírito devia vangloriar-se dos remates de um dia apaixonadamente cansado de fazer o que gosta.
- Como vão as coisas? Lá em casa tudo bem?
- Como pode tudo estar bem quando nem o cansaço tem direito a uma noite de sono tranquila, encostando a cabeça no travesseiro, com a mente maquinando as entranhas de um novo dia?
De portas abertas as ruas nos convidam a sacrificar a coragem e lá seguir caminhando entre vozes que ecoam no nosso ser o medo do que possa acontecer a cada passo que colocamos à nossa frente.
- É, meu amigo! Quando a alma chora por não saber se ainda pertence ao seu corpo, a vida perde o toque brilhante da magia do seu belo que encanta os que te cingem de amor e paz.
É, minha amiga!
A vida por aqui vai sendo ceifada como se fosse nada.
Sim, a alma chora, não por a vida não nos pertencer, mas por ser levada por quem não de direito, divergindo com a ordem natural da criação humana. O propósito da nossa presença, a esperança de um sorriso, coisas que faleceram aos nossos olhos e nós só continuamos respirando, pois vivos não estamos, neste mundo tão negativo, imoral, impaciente, intolerante, egoísta  autoritário, de homens que venderam suas almas ao direito de sofrer, porque no sofrimento alheio se rejubilam e consumam sua miséria nas calçadas onde arrastam seus pés, nos olhares ensopados de raiva, nas palavras emporcalhadas que professam.
Como vai a vida? Qual vida? O que é a vida? Onde a encontro? E se a encontrar, como poderei reconhecê-la?
É, meu amigo! É, minha amiga! Creio que caminhamos como seres inanimados, erradamente motivados, amaldiçoadamente apaixonados, obsessivamente desviados do real caminho da dita vida e quando é assim a alma chora.