No vulcão cozem os
prazeres. A bandeira é tirada para cobrir a boca do vulcão para ninguém
testemunhar a cozedura dos corpos. O cavaleiro leva a haste para servir de
estrutura do foguete. Sulca montanhas e vales, navega pelas nuvens, proclamando
a festa; gritos alegres encontram ouvidos em vários acasos da ilha. Pequenos
montes e montanhas convivem aos sons dos pássaros que por lá aportam, sempre
sob olhar vigilante do vulcão, o portão identitário. As estrelas cruzam o céu, mergulham
nas nuvens timidamente; a lua sopra com lábios carnudos para o queixo do Minó
di Mama. Que convencido a alma, vaidoso que ganha coragem com o violino,
inventam gestos e gestas de cortês para o alvoroço das senhoras. A Miloca está
quieta. Os seus olhos brilham na vertente da lua que o Minduca recolhe com
desejo.
A bandeirona também
é vagabunda. Deambula pelas ruas numa performance contagiante; os textos, os
atores e o público harmonizam-se em verve colectiva numa harmonização
horizontal. Todos são convocados. Todos proclamados senhores da festa. Todos
transportam e transpiram energia. No rufar do tambor, no toque-toque do pilão e
na dança-dança geométrica das senhoras. O Osvaldo manco, quedo no seu canto,
faz de sofista qual sofisma! Qual etiquetas, qual quê! O homem canta e encanta;
faz comício para as gargalhadas dos presentes. De bokarum, canizadi é só
amizade. O vulcão é a música; é o público; é o texto. Na ilha do Fogo, o tempo está colorido; tons
vermelhos, verdes, azuis, de berrantes até cega as almas. Os convivas calcorreiam
os espaços, de transeuntes anónimos de sorrisos abertos. Os carros voam com
baterias de sons, descem do sopé do vulcão.
Enquanto isso, na
greta do mar, os barcos sulcam o oceano. Balanceiam ansiosos para novas
paragens. No sotavento, o vento é amarrado no lençol. Ventos acumulados e
trabalhados para fazerem de batuques e tambores na ilha de Santiago.
Olha Santiago bem
perto, de peito largo no seu cavalo. Bate com brio no cavalo e varre o tempo
com prenúncios de bem-vindos. Badias tagarelam no pelourinho, de bocas aguçadas
cospem paleio; «freguês, não queres nada», «produto barato e de qualidade». A classe
média, nacionais e turistas, declina o convite; a moldura do corpo padronizado
reprime qualquer diálogo social. (continua)