10/01/13

Mar-blues: sodade, oh mar, oh gente…II



No vulcão cozem os prazeres. A bandeira é tirada para cobrir a boca do vulcão para ninguém testemunhar a cozedura dos corpos. O cavaleiro leva a haste para servir de estrutura do foguete. Sulca montanhas e vales, navega pelas nuvens, proclamando a festa; gritos alegres encontram ouvidos em vários acasos da ilha. Pequenos montes e montanhas convivem aos sons dos pássaros que por lá aportam, sempre sob olhar vigilante do vulcão, o portão identitário. As estrelas cruzam o céu, mergulham nas nuvens timidamente; a lua sopra com lábios carnudos para o queixo do Minó di Mama. Que convencido a alma, vaidoso que ganha coragem com o violino, inventam gestos e gestas de cortês para o alvoroço das senhoras. A Miloca está quieta. Os seus olhos brilham na vertente da lua que o Minduca recolhe com desejo.

A bandeirona também é vagabunda. Deambula pelas ruas numa performance contagiante; os textos, os atores e o público harmonizam-se em verve colectiva numa harmonização horizontal. Todos são convocados. Todos proclamados senhores da festa. Todos transportam e transpiram energia. No rufar do tambor, no toque-toque do pilão e na dança-dança geométrica das senhoras. O Osvaldo manco, quedo no seu canto, faz de sofista qual sofisma! Qual etiquetas, qual quê! O homem canta e encanta; faz comício para as gargalhadas dos presentes. De bokarum, canizadi é só amizade. O vulcão é a música; é o público; é o texto.  Na ilha do Fogo, o tempo está colorido; tons vermelhos, verdes, azuis, de berrantes até cega as almas. Os convivas calcorreiam os espaços, de transeuntes anónimos de sorrisos abertos. Os carros voam com baterias de sons, descem do sopé do vulcão.

Enquanto isso, na greta do mar, os barcos sulcam o oceano. Balanceiam ansiosos para novas paragens. No sotavento, o vento é amarrado no lençol. Ventos acumulados e trabalhados para fazerem de batuques e tambores na ilha de Santiago.

Olha Santiago bem perto, de peito largo no seu cavalo. Bate com brio no cavalo e varre o tempo com prenúncios de bem-vindos. Badias tagarelam no pelourinho, de bocas aguçadas cospem paleio; «freguês, não queres nada», «produto barato e de qualidade». A classe média, nacionais e turistas, declina o convite; a moldura do corpo padronizado reprime qualquer diálogo social. (continua)