Metáfora Definição do Batuque
Entre as muitas mulheres que improvisam
almofadas fofas para as pulgas das crianças traquinas; nha Nácia Gome (sem usar o compasso, esquadra e régua) é quem
melhor deu espessura à cadência e concavidade da composição musical do batuque.
Esta música arrepia o sono e coito interrompido das badias do Oráculo. Pergunte
ao meu cão de guarda tisnado na pelugem pela nódoa das bananeiras — que
espreguiça no regaço que a minha mãe aquece para me acariciar — para
comprovarem a verdade de que o gato [com a sua antena de insecto] dança batuque
e tem a mania esdrúxula de que consegue alcançar num disparo a cabeça no primeiro
som da batucada. Nunca se conseguiu esta façanha de ouriço-do-mar, de respirar
com a cabeça dentro duma tina de água, mas diga-se de passagem: em todo o
interior da ilha de Santiago a imagem preto e branco de Cabo Verde engrossa
todas as pedras para dar lugar às algas. A terra-mãe obriga ser lavrada nos repisados
passos da txhabeta[1],
o rebolar do quadril da menina-moça
no semicírculo erótico — da gema do cio e do acasalamento — é o primeiro lugar
do mundo onde se perde parte da inocência. No terreiro a exibição e as nádegas
obedecem o ritmo compassado e frenético das batucadeiras; a mão-cheia que
distribuía doces de coco aos filhos, é
que faz repercutir um eco açucarado numa repercussão instrumental que sobe
litros de sangue à cabeça do cavalo. Acredite que toda a mudjer di fora[2] tem a sonância verbal do mar na
garganta, e é habitualmente obcecada pelo cântico dos grilos e o crepitar do Sol
plástico na sementeira — ofício da enxada no fogo que partilhamos no almoço.