rendi-me ao cansaço
fétido os meus dedos escrevem
o odor da minha resistência
não me sinto em paz com as teclas
que estrebucham o azedo do final do dia
não percebo muito do que penso
nesta tarde voraz que me segura
já é noite no dia que se fez tarde
enquanto lá fora o final de semana cresce
quero vida na voz longínqua das noitadas
quero paz no barulho do meu cansaço
como a água de uma ribeira seca
quero banhar-me na imensidão do nada
ao redor de muitos que nunca estão mesmo estando
vou-me acabar rastejando nos meus pulos
andar a pino rebocando o meu sorriso
atando na minha sola o timbre da Lua
sentir transpirar em apoteose o meu ser
de tanto rugir ao vento o doce favo da noite
perdido nas ilhas de sóis escondidos na algibeira
derretendo o meu cansaço nos lençóis da minha cama