Santiago possui várias coordenadas de sonhos, de afectos, de criatividade, de gritos e de silêncio. Tudo no caminhar da vida que cruza vários momentos de construção e de consolidação. A Cidade Velha é o palanque de festa da criação, de momentos em que os corpos dos sexos desnaturados encontram momentos de confrontos. Branco e Preto, e branco na preta, corporizando a hibridação crioula. A dor de sangue, no confronto da urbe, deu lugar criações e desafios para uma nova largada no funco, nas achadas e cutelos. Santiago repartido; nos gritos vagabundos dos badios que no seu ambiente ecológico brindam com protestos e revoltas; e o silêncio maquinal dos senhores brancos orquestram represálias. Santiago cresceu, que nesse ambiente de incógnita fermenta esperança com os mestiços, pretos e brancos, nas nuvens à guarida das caravelas, de saques e sotaques. Na fortaleza, de armas apontadas para outras realezas, no plateau para mirar outras urbes e questionar o mar.
Santiago, de arranjos berrantes, segue a pegada de novos mares e ares. Senhor cavaleiro que monta o tempo, no passeio das nuvens, no seu caminhar demansinho. Orquestra várias trajectorias no céu e depois fala com o São Pedro, o manda chuva de sonhos e de esperança. A chuva cai, e Amilcar Cabral escreve «Mamãe Velha» que Alcione imortaliza. Nas vertentes da ilha, acasos d'agua alimentam esperanças. Romarias de mãos cruzadas, de alfaias que tecem o chão com milhos, feijões, de frutas que o povo desfruta, com prazer. Santiago quando chove é uma ilha no paraíso; é como as revistas de Jeová que idealiza o paraíso. Todos contentes na corrente da abundância e na brejeirice dos badios. Os badios são conhecidos como ingratos que brinca com a abundância; põem nomes à tudo que faz parte da moda. Engraçados os seus sorrisos e conversas em tons graves; sem malícia, tudo na harmonização de uma boa fartura.
Plateau, depois que se torna cidade, na contra-corrente do decante Ribeira Grande, ganha novos corpos e se desliga do todo, malgrado o seu poder administrativo, económico... Simbolicamente, impôs os seus trilhos e regras de jogo. Se desliga das tradições populares, e o povo fica no mercado e no espaço público. Se descontinua nas suas relações sexuais com os brabos das urbes.
Santiago é um senhor gigante, balenti... trovador de sons que consegue traduzir só de ouvidos nas casas de mais poderosos. Mas também criou almas no desconforto, para a harmonização nas comunidades; o batuque, a tabanca, o funana tocados em tons frenéticos exorcizando medos e demónios encapuçados.