05/03/13

A Solidão da Brava

Toda a gente conhece certamente aquela velha expressão: «à terceira é de vez.» Pois, apesar do mar picado em Djarfogo, consegui seguir viagem enquanto o burkan apanhava uma djonga! A viagem foi tranquila. O tal barco da companhia CVFF, que faz diariamente a ligação marítima entre Fogo e Brava, não tem um convés superior para melhor apreciar a paisagem, sentir a brisa do mar e observar o manto azul que se estende no horizonte. Queria eu passar a viagem toda espreitando as estrelas no céu e as ondas numa balada, ao invés de desfazer-me em gargalhadas por causa da meia dúzia de indivíduos que em terra são certamente valentes mas ali riba da água do mar não conseguiam nem pestanejar os olhos. Oh nhordés, que tristeza! Pouco tempo depois, o barco atracou na Brava. Do porto de Furna à Nova Sintra, também a viagem foi bem-humorada, entrelaçada com os reparos sobre a chegada do asfalto à ilha e as infindáveis noventa e tal curvas em tão pouco quilómetro de distância.

Diga-se que esta pequena ilha da Brava era antigamente a estrela do poeta imortal, Eugénio Tavares. E é agora uma velha quase esfarrapada e tão desamparada, sem o brilho dos seus vinte anos. Porém, já dizia o meu avô, «chave velha não se deita fora.» Quem sabe, junto com as outras peças soltas e dispersas, poderá ser a chave do futuro, a prever: turismar! Não estou em dias de protestar, apetece-me falar tão-somente da minha maravilhosa aventura no Ilhéu de Riba, ali na ilha da Brava. Foi um momento mágico, daqueles que ficam para recordar um dia. Euzinha desbravando tantas águas num dia que se dizia de mar brabo. Marinheira que sou, passei a viagem toda fotando ora a face da orgulhosa ilha do Fogo ora a tímida silhueta da ilha da Brava que ia ficando para lá das ondas maiores. Chegando ao Djéu di Riba, como é também carinhosamente apelidado, as surpresas iam sucedendo a cada passo. Em toda a minha vida, nunca tinha trilhado tão feliz da vida por entre as poeiras do tempo. Estar ali, uma tarde toda, cantarolando, fez-me recordar dos anos idos em que, ainda criança, catava conchinhas nas enseadas pela encosta de minh’aldeia: a secura, o sol escaldante, o cheiro húmido da maresia, a melodia das ondas e o areal ardente que a gente pisa com a pontinha dos pés. Toda esta emoção é maior do que o mar, que o céu! E no cambar da noite, mais um afago da ilha.