Lentes opacas,
Translucidas,
Esmeraldas.
Vidraças escurecidas pela brasura do sol,
pelos ventos fortes vindos do sul e do
sudeste.
Lentes.
Armaduras de um corpo morto, amorfo.
Visão entorpecida pela métrica dos dias que
correm,
Pelos cálculos e matemáticas de corpos
Que se desdobram entre projeções
E o passado que não morre.
Olhar catalizado pela imensidão dos dias e das
noites
Que teimam em passar em branco,
Mesmo quando os gestos e expressões sabem
A qualquer tipo de sensação mais ou menos
entusiástica,
Em que a distância entre a possibilidade
Do estar em si mesmo e no outro
Não se define por uma simples linha recta,
com métricas e delimitações numéricas.
Tudo e nada.
A soma do todo,
A divisão das partes.
Olhares milimetricamente testados
Por racionalizações estáticas.
Olhares que se indefinem perante a
complexidade
E indefinições de um organismo em perpétuas
transmutações
Entre o ser que o coabita e que resiste
Às intempéries da vida no exterior,
Às irracionalizações abstratas do eu em si
mesmo.
E tudo passa em branco quando o ser
autêntico
É percebido por um corpus padronizado de
lógicas
Que se ligam entre si por linhas
desordenadas .
E tudo passa em branco quando as correntes
de dados
E ópticas e consensos e paradoxos e lógicas
se autoalimentam
Nas correntes de ar impuras
Que trespassam as barreiras mal vigiadas do
ser.
E tudo passa num simples aceno.
Os dias acordam uns a seguir aos outros
As noites vêm confirmar o dilema dos dias
mortos
Em que tudo se esvai em lembranças e
sensações
Que se fecham entre si e não deixam espaço
Para qualquer outro tipo de pensamento
Senão a dos dias e das noites que teimam em
passar em branco.